Morrer de Olhos Abertos
"Morrer com dignidade é difícil, sem dúvida, quando se é prisioneiro de uma conspiração do silêncio, quando aqueles que nos são mais próximos assistem, angustiados, impotentes e mudos ao nosso lento desaparecimento. Quando não podem ou não querem acompanhar-nos. Por mais lúcidos que sejamos, esta demissão dos que nos rodeiam, pode dificultar o nosso morrer, o nosso «trabalho da morte». Como estar em paz consigo mesmo e com os outros, como despedir-se, como transmitir qualquer coisa de si e da sua experiência de vida, se toda a gente foge ou faz como se a morte não estivesse ali à porta?
A forma como deixamos este mundo depende tanto da maneira como vivemos a nossa vida, como da atitude dos que nos rodeiam.
(...)
Cada um de nós pode preparar a sua morte - cujo dia e cuja hora ninguém conhece - vivendo o mais que possa de acordo com os seus valores e o mais conscientemente possível. Cada um de nós pode aproximar-se da morte, olhando-a de frente, desde que não deixe de reconhecer a sua realidade, desde que o meio nos aceite, desde que, à volta de quem morre, se respirem verdade e amor. Cada um de nós pode fazer da sua morte uma lição de vida para os outros."
Maria de Hennezel
(Psicóloga da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital Universitário de Paris)
in Livro "Morrer de Olhos Abertos", Editora Casa das Letras
2 comentários:
Fiquei com curiosidade em relação a este livro...
Não é dos melhores da Marie Hennezel, mas consegue ter uns parágrafos de uma verdade profunda que nos fazem parar e reflectir. E o objectivo é esse mesmo: pensar sobre a morte, a nossa e dos outros.
Obrigado pela visita.
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