As surpresas da semana
1 - Modular System (dos arquitectos Alexandre Teixeira da Silva e Miguel Ribeiro de Sousa, Arquiporto) - uma casa muito portuguesa!
2 - Concurso de Design da Super Bock para o Pack do Natal 2008 (envio de propostas até dia 30 Junho 2008).
3 - Uma dica culinária a experimentar brevemente.
4 - Discover Keith Richards' London.
5 - Tire as lembranças do baú e volte atrás no tempo de Maio a Outubro, na Linha do Douro.
6 - O Diário de Mafalda Veiga.
7 - Totalmente de acordo!
8 - A que sabe a Lua: uma loja muito especial para visitar em Évora.
9 - É mesmo, mesmo isso!
10 - Sei que sou pobre para conseguir pagar o preço dos bilhetes, mas este era um espectáculo que gostava muito de ir ver. Mas não há problema, fica reservado para quando for rica!
11 - Ofereceram-me um frasquinho de Óleo de Borragem e fiquei a saber muito sobre esta planta e as suas propriedades.
"Estou aqui construindo o novo dia com uma expressão tão branda e descuidada que dir-se-ia não estar fazendo nada. E, contudo, estou aqui construindo o novo dia!" António Gedeão
sábado, 24 de maio de 2008
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Aprendo a rezar com os pés
Caminham em filas ao lado das estradas nacionais, por trilhos de terra batida, atravessando pequenos povoados que antes desconheciam, cruzando horas e horas a paisagem de giestas e silêncio. Têm em português um nome que deriva de uma forma latina: Per ager, que significa "através dos campos"; ou Per eger, "para lá das fronteiras". Definem-se, assim, por uma extraterritorialidade simbólica que os faz, momentaneamente, viver sem cidade e sem morada. Experimentam uma espécie de nomadismo: não se demoram em parte alguma, comem ao sabor da própria jornada, dormem aqui e ali. Num tempo ferozmente cioso da produção e do consumo, eles são um elogio da frugalidade e do dom. Relativizam a prisão de comodismos, necessidades, fatalismos e desculpas. E o seu coração abre-se à revelação de um sentido maior.
A verdade é que é difícil ter uma vida interior de qualidade, se nem vida se tem, no atropelo de um quotidiano que devora tudo. Na saturação das imagens que nos são impostas, vamos perdendo a capacidade de ver. No excesso de informação e de palavra, esquecemos a arte de ouvir e comunicar vida. Damos por nós, e há, à nossa volta, um deserto sem resposta que cresce. E quando nos voltamos para Deus, parece que não sabemos rezar.
Estes peregrinos que tornam a encher as estradas de Fátima (mas também de Santiago, de Chartres, do Loreto.) assinalam-nos o dever de buscar a estrada luminosa da própria vida. Já não separam a existência por gavetas estanques, mas o seu corpo e a sua alma respiram em uníssono. A oração torna-se natural como uma conversa, e as conversas enchem-se de profundidade, de atenção, de sorrisos. A parte mais importante dos quilómetros que percorrem não está em nenhum mapa: eles caminham para um centro invisível onde pode acontecer o encontro e o renascimento.
Queria dedicar este texto a um amigo que, neste mês de Maio, fez a sua primeira peregrinação. A meio do caminho enviou-me uma mensagem a dizer: «Aprendo a rezar com os pés».
José Tolentino Mendonça
Notícias da Agência Ecclesia - 13.05.2008
Caminham em filas ao lado das estradas nacionais, por trilhos de terra batida, atravessando pequenos povoados que antes desconheciam, cruzando horas e horas a paisagem de giestas e silêncio. Têm em português um nome que deriva de uma forma latina: Per ager, que significa "através dos campos"; ou Per eger, "para lá das fronteiras". Definem-se, assim, por uma extraterritorialidade simbólica que os faz, momentaneamente, viver sem cidade e sem morada. Experimentam uma espécie de nomadismo: não se demoram em parte alguma, comem ao sabor da própria jornada, dormem aqui e ali. Num tempo ferozmente cioso da produção e do consumo, eles são um elogio da frugalidade e do dom. Relativizam a prisão de comodismos, necessidades, fatalismos e desculpas. E o seu coração abre-se à revelação de um sentido maior.
A verdade é que é difícil ter uma vida interior de qualidade, se nem vida se tem, no atropelo de um quotidiano que devora tudo. Na saturação das imagens que nos são impostas, vamos perdendo a capacidade de ver. No excesso de informação e de palavra, esquecemos a arte de ouvir e comunicar vida. Damos por nós, e há, à nossa volta, um deserto sem resposta que cresce. E quando nos voltamos para Deus, parece que não sabemos rezar.
Estes peregrinos que tornam a encher as estradas de Fátima (mas também de Santiago, de Chartres, do Loreto.) assinalam-nos o dever de buscar a estrada luminosa da própria vida. Já não separam a existência por gavetas estanques, mas o seu corpo e a sua alma respiram em uníssono. A oração torna-se natural como uma conversa, e as conversas enchem-se de profundidade, de atenção, de sorrisos. A parte mais importante dos quilómetros que percorrem não está em nenhum mapa: eles caminham para um centro invisível onde pode acontecer o encontro e o renascimento.
Queria dedicar este texto a um amigo que, neste mês de Maio, fez a sua primeira peregrinação. A meio do caminho enviou-me uma mensagem a dizer: «Aprendo a rezar com os pés».
José Tolentino Mendonça
Notícias da Agência Ecclesia - 13.05.2008
quinta-feira, 22 de maio de 2008
As imagens da semana
Peregrinar (pela primeira vez a pé) até Fátima... Um caminho difícil que só quem tem fé poderá realizar.
Fui colocar a minha fé à prova e, mesmo que tenha falhado por momentos, cheguei até Nossa Senhora com o coração cheio de emoção: um misto de alegria, gratidão, dor e muito cansaço.
É uma experiência única que deveria ser vivida não só por promessa, mas para sentir a força das nossas crenças e do nosso Deus. Para compreender a humildade, a esperança, o sofrimento, a alegria, o conforto, a tristeza, o desespero, o apoio, a resistência de nós próprios e dos que nos acompanham.
Um caminho a ser feito em grupo, porque apesar das mazelas habituais das diferentes personalidades, valem-nos em todas as etapas, sejam as mais fáceis ou as mais difíceis.
Foi a minha primeira peregrinação a pé e não será a última, tenho a certeza!
Um muito OBRIGADO a quem me acompanhou e apoiou - inclusive um bem haja para os automobilistas que apitam/acenam e para as pessoas que connosco se cruzam e proferem palavras/gestos incentivando a nossa caminhada. Foi em todos eles que senti a presença de Deus: um Deus amigo, generoso, atencioso, companheiro, Pai que conforta, não nos abandona, partilha, ampara e chama pelo nosso nome.
O meu Deus é um Deus de amor e perdão, e espero que o vosso também seja. E para quem não crê ou tem outra religião, que o amor e o perdão sejam os princípios fundamentais da vossa vida. Só assim poderemos ser felizes neste Mundo.
Peregrinar (pela primeira vez a pé) até Fátima... Um caminho difícil que só quem tem fé poderá realizar.
Fui colocar a minha fé à prova e, mesmo que tenha falhado por momentos, cheguei até Nossa Senhora com o coração cheio de emoção: um misto de alegria, gratidão, dor e muito cansaço.
É uma experiência única que deveria ser vivida não só por promessa, mas para sentir a força das nossas crenças e do nosso Deus. Para compreender a humildade, a esperança, o sofrimento, a alegria, o conforto, a tristeza, o desespero, o apoio, a resistência de nós próprios e dos que nos acompanham.
Um caminho a ser feito em grupo, porque apesar das mazelas habituais das diferentes personalidades, valem-nos em todas as etapas, sejam as mais fáceis ou as mais difíceis.
Foi a minha primeira peregrinação a pé e não será a última, tenho a certeza!
Um muito OBRIGADO a quem me acompanhou e apoiou - inclusive um bem haja para os automobilistas que apitam/acenam e para as pessoas que connosco se cruzam e proferem palavras/gestos incentivando a nossa caminhada. Foi em todos eles que senti a presença de Deus: um Deus amigo, generoso, atencioso, companheiro, Pai que conforta, não nos abandona, partilha, ampara e chama pelo nosso nome.
O meu Deus é um Deus de amor e perdão, e espero que o vosso também seja. E para quem não crê ou tem outra religião, que o amor e o perdão sejam os princípios fundamentais da vossa vida. Só assim poderemos ser felizes neste Mundo.
As nossas benfeitoras do apoio foram excepcionais! Comida (bolos deliciosos!), bebidas, simpatia, disponibilidade. Incansáveis!
O segundo "mata-bicho": mas nós só comemos? Vão precisar de muita energia para a caminhada...
Vamos, vamos! Ainda temos muito para caminhar.
As amigas do Carro de Apoio: obrigado, de coração!
O almoço do primeiro dia: o grão estava delicioso!
O jantar do primeiro dia: não provei, mas parece que o Doce de Maçã era divino, pois a Custódia não falava em outra coisa!
A primeira bolha (logo no primeiro dia) que os bombeiros trataram quando estava deitada dentro da ambulância (pela primeira vez!) e a quem avisei, para não se entusiasmarem, pois não estava grávida e não iria entrar para as estatísticas elevadas de partos em ambulâncias!
Os Bombeiros da Merceana foram impecáveis. Que Deus os proteja sempre.
A suite e a montagem da cama...
No início do segundo dia: um cafézinho à bondade da Bombeira de Merceana!
O pequeno-almoço num lugar pequeno...
Ser humilde e perceber que por vezes não conseguimos... A minha bolha estragou o pé, tive de parar e ir para a Carrinha de Apoio...
Esta foi uma excelente Carrinha de Apoio!
O JD foi um apoio extraordinário (e não devo ser só eu a dize-lo!) até quando estamos dentro da carrinha...
Aceitar que nem sempre somos os melhores/maiores/mais resistentes/mais corajosos...
Apesar dos bons cuidados dos Bombeiros de Merceana, não coseram a bolha com a linha preta (como manda a tradição!) e voltou a tapar, encher de líquido e rebentar (com a agravante do penso para bolhas ter colado à pele e não conseguir descolá-lo sem fazer um "choradinho"!)
O JD coseu muito bem e aprendi a lição: bolhas sempre cosidas com agulha e linha preta (desinfectada com álcool).
Os segundos....
Um belo almoço no segundo dia! Sempre muita comida. Ninguém emagreceu, pois não? Com tanta comida e doces era muito difícil...
A Custódia conseguiu ganhar o prémio de "Maior Bolha do Grupo" e muitas dores também...
O incansável enfermeiro e cosedor (aprovado!) de pés!
Dormir no grande pavilhão dos Bombeiros de Rio Maior depois de um jantar muito bom, partilhado ali mesmo, foi reconfortante (o pão era caseiro e penso que todos gostaram da sopa de peixe, não foi? Como sou vegetariana não comi mas cheirava bem...).
De um lado mulheres, de outro homens (ainda bem... Os homens ressonavam mais alto e assim ficaram um pouco mais longe... e não estou a dizer mal, só a constatar uma realidade - estatística também!).
O terceiro dia (e o mais difícil para mim) a começar com um cafézito num pequeno local dirigido por um casal já velhote... O cansaço já se fazia sentir assim como as dores...
Valeu a alegria da nossa menininha Raquel (que deve ter ficado triste ou mesmo zangada comigo, quando disse que não gostava muito de Carmelitas... Desculpa, mas é verdade...).
Num local lindíssimo...
Subir a serra até Minde...
Chegar aos Bombeiros de Minde e ter uma missa no pavilhão onde íamos dormir (com mais não sei quantos) celebrada pelo Padre Chico foram emoções intensas... Só falhou a sopa: era Canja e para uma vegetariana com fome é sinal de maldade. Mas como devia ser a única vegetariana de todo sempre a chegar em peregrinação ali, compreendi e perdoei!
Apesar de chorar quando ía a caminho e cheguei a Minde, na missa controlei-me concentrando-me na camisola amarela...
Que estava quase sempre na minha frente e dizia: Para Fátima Rezamos com Maria.
Acordar no quarto dia sabendo que falta só 18 Kilómetros até Fátima faz-nos esquecer tudo e ter vontade de sorrir!
Uma noite abençoada em colchões decentes dos bombeiros de Minde (para quem está todo dorido é uma dádiva deveras valiosa e gratificante!).
Depois de um bom pequeno-almoço, fazemo-nos à estrada (repleta de peregrinos). Faz muita impressão a velocidade dos veículos que passam por nós, nomeadamente camiões... Parece que nos levam também!
Os Guias - quem caminha ao nosso lado; quem nos leva pelo caminho do bem; quem nos protege e consola; quem procura, no meio das dificuldades, a luz para iluminar a escuridão. Os melhores guias do mundo foram estes (com alguns defeitos claro, mas não há seres humanos perfeitos).
E chegamos a esta Casa de Paz, que só quem é católico e acredita, poderá sentir e compreender. E participamos na Procissão das Velas (um dos momentos altos das cerimónias).
Encostamo-nos a ti, Mãe de Deus. Procurando a tua protecção.
Com lenços brancos, de quem nos chamou. Esperando voltar em breve para agradecer a Nossa Senhora de Fátima o facto de nunca nos abandonar e continuar a amar incondicionalmente todos os Homens.
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