quarta-feira, 14 de maio de 2008

Estações de Metro (Lisboa)
Um Museu na sua Viagem
http://www.metrolisboa.pt

Arte ao encontro das pessoas
"Para além de ser o transporte público mais rápido de Lisboa, o metropolitano acumula também o título de “galeria de exposição permanente de arte contemporânea”. Quotidianamente, um mar de gente desagua nas 42 estações da rede. Muitos nem se apercebem do que aqui vai. Outros sim, e só não chegam a desejar que o comboio se atrase porque por aqui passam duas vezes ao dia. Porém, ele há sempre um olhar diferente, um pormenor que não se tinha visto antes...
Nas Picoas, a homenagem é às mulheres da capital. As figuras típicas de Lisboa antiga, como as vendedoras de canastra à cabeça, misturam-se com a heráldica da cidade. Martins Correia, o artista plástico convidado, criou igualmente a estátua em bronze de Pomona, a deusa grega dos frutos e da abundância. Mas uma parte do destaque vai direitinho ao acesso da pela Rua Andrade Corvo. Inserida num programa de intercâmbio cultural entre redes de metropolitano, Lisboa recebeu da tradição de Paris, uma peça de mobiliário urbano em Arte Nova de Hector Guimard.
De igual forma os nossos artistas têm o seu nome espalhado em estações de todo o mundo. Tóquio, Sidney, Moscovo, Paris e o metrô de São Paulo são apenas alguns exemplos de paragens distantes com arte em português.
Na estação de metro do Jardim Zoológico andam animais à solta e até plantas já crescem por lá. Foi Júlio Resende o responsável por tamanha irreverência, o que lhe valeu dois anos passados na Fábrica de Cerâmica Viúva de Lamego a pintar pela própria mão os azulejos que hoje vemos e que cobrem chão e tecto.
No Campo Grande, a primeira estação construída em viaduto, Eduardo Nery aproveitou-se da quadrícula do azulejo e desconstruíu as “figuras de convite” frequentes à entrada dos grandes edifícios de Setecentos. Uma outra forma centenária de dar as boas-vindas. Tradição contemporânea à portuguesa.
Quatro nomes, quatro vultos
Atento aos efeitos negativos de um ambiente subterrâneo, o Metropolitano mostrou-se interessado em minimizá-los. Corria a década de 80 quando quatro artistas plásticos de renome foram chamados a intervir nalgumas das novas estações que estavam a surgir.
Júlio Pomar deixou o traço no Alto dos Moinhos com a representação de grandes vultos das artes portuguesas. Camões, Bocage, Pessoa e Almada Negreiros são símbolos das letras transpostos para o azulejo em jeito de graffiti. Sabendo de antemão da forma espontânea como os riscos e rabiscos surgem em espaços públicos, Pomar antecipou-se deixando o seu cunho gravado no azulejo.
Das Laranjeiras ocupou-se Sá Nogueira. Recorrendo à fotografia de laranjas e à serigrafia, processos de fabrico em série, o artista plástico criou arte nos azulejos da Fábrica Rugo.
Decora o Colégio Militar Cargaleiro. Quis o pintor e ceramista passar o ambiente dos “corredores azuis” de Portugal. Uma presença na memória colectiva por serem frequentes nos edifícios públicos como escolas, hospitais e instituições instaladas em antigos conventos e palácios onde a azulejaria tinha presença constante. Ninguém fica indiferente a esta estação.
À Cidade Universitária cedeu Vieira da Silva o guache “Abrigo Anti-Aéreo” para ser transposto para azulejo por Cargaleiro. Representa uma multidão anónima que se refugiou no metro de Paris para escapar aos bombardeamentos da Segunda Grande Guerra. Mas no meio do desconhecido, surgem caras identificáveis. Uma figura envergando uma toga clássica, talvez seja Sócrates de quem foi citada uma frase. “Não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo”.
Valores mais altos se levantam
No Parque, a par do tema dos Direitos do Homem cujos trinta artigos da Declaração se encontram na nave desta estação, outra temática se levanta, a dos Descobrimentos Portugueses. Para tal a belga Françoise Schein e a francesa Federica Matta escolheram muita da simbologia e iconografia da época. Já reparou bem nos mapas?
Um convite também para falar do novo de que é símbolo o rinoceronte de Dürer, a primeira representação deste animal conhecida na Europa. Seguindo a curvatura das paredes estão esculturas como que trepando por elas acima. Mas o tema não se esgotou aqui e no Oriente, o arquitecto Sanchez Jorge pretendeu reflectir os acabamentos da temática da Expo ’98, os oceanos, onde a Expansão Ultramarina também foi abordada.
As estruturas metálicas lembram velas e proas de barcos e os gradeamentos dos topos dos cais e das escadarias parecem ondular à medida que o passageiro vai passando por elas. Para realçar o cunho universalista foram convidados onze artistas de mérito internacional representativos dos cinco continentes. Reina o espírito multicultural.
Da arquitectura arrojada às novas estações
E se de ornamentação se falou até agora, igualmente será de destacar a arquitectura. Localizada a cerca de 45 metros abaixo da superfície, a estação da Baixa-Chiado é a mais profunda de toda a rede. O risco é de Siza Vieira. Já pelas Olaias ficou responsável o arquitecto Tomás Taveira que interveio num local em cuja estruturação urbanística desempenhara já um importante papel. O colorido é a sua imagem de marca.
As cinco novas estações inauguradas a 27 de Março de 2004 têm por sobrenome o moderno. Quinta das Conchas, Lumiar, Ameixoeira e Odivelas são nomes provavelmente mais familiares que o Senhor Roubado, nome de uma rua com um padrão datado de 1744 que dá acesso à estação de metro.
Conta-se que em 1671 (vejam lá bem ao tempo que isto foi) um senhor chamado António Ferreira roubou os altares da igreja de Odivelas escondendo os objectos numa mata de caniços que é hoje esta zona. A dimensão do roubo foi tal que foram afixados éditos prometendo recompensas em dinheiro e emprego na justiça ou na fazenda a quem denunciasse o autor do crime.
Descoberto António Ferreira, não tardou em surgir o duro veredicto. “... decepadas ambas as mãos e queimadas à sua vista e depois seu corpo será queimado.” No local, foi colocado um padrão de cruz em madeira que mais tarde, o religioso António dos Santos transformou no padrão do Senhor Roubado.
Histórias à parte, a verdade é que podemos até ter uma das redes de metro mais pequenas da Europa, mas em contrapartida será das mais bonitas no seu conjunto. Madrid, Barcelona e Paris parecem tão cinzentos em comparação com as novas estações de Lisboa..."

Paula Oliveira Silva
In site
Lifecooler

Sem comentários: