Espécies invasoras são ameaça ambiental e económica
"Impacto. São 10 822 as espécies animais e vegetais invasoras na Europa. Extinguem as espécies autóctones, põem em risco a saúde humana e causam prejuízos à economia. Estima-se que custem 12 mil milhões de euros por ano ao continente europeu
A alga Caulerpa taxifolia fugiu do Museu Oceanográfico do Mónaco, o lagostim vermelho da Luisiana foi introduzida intencionalmente nos rios para consumo humano, a tartaruga-da-florida foi importada para aquários domésticos e o periquito-de-colar fugiu acidentalmente das gaiolas. Estas espécies estão classificadas entre as 10 822 variedades invasoras na Europa. Ameaçam a biodervisidade característica de cada país e do Continente, colocam em risco a saúde humana, interferem nas actividades económicas e causam prejuízos na ordem de 12 mil milhões de euros à Europa.
A carne dos peixes que se alimentam da Caulerpa torna-se imprópria para o consumo humano; o lagostim vermelho (Procambarus clarkii) levou a extinção do lagostim de patas brancas, natural dos rios do Norte de Portugal e reduz a produção de arroz; as espécies consumidas pela tartaruga-da-florida (Trachemys scripta) vão das cobras aos vegetais e assim são eliminadas variedades autóctones - sendo que desde 1999 a sua importação é proibida. A perca-sol (Lepomis gibbosus), introduzida para a pesca desportiva, tem dizimado populações de peixes autóctones; o periquito-de-colar (Psittacula krameri) compete pela comida com espécies locais; e o mexilhão-zebra (Dreissena polympha) recobre todas as superfícies disponíveis, o que acaba com outras espécies e obstrui a passagem da água. "As espécies invasoras trazem prejuízos à saúde humana, à economia e à sobrevivência de diversas espécies autóctones. Não se trata de um problema local, português, mas sim europeu, pois não existem fronteiras geográficas para barrar estas espécies", alerta Mário Silva, do Departamento de Conservação do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).
O biólogo Luís Gordinho mapeou a introdução de aves exóticas em Portugal na década de 90 e identificou 350 mil aves, a maioria da África e da Ásia, importadas em 1999. "As aves, e outras espécies invasoras, quando fogem do cativeiro ou são libertadas - caso das tartarugas quando crescem e se tornam inviáveis de manter em casa -, se encontram condições alimentares e de reprodução acabam por naturalizar-se. A competição por alimento e habitat e a predação de outras espécies põe em risco a biodiversidade", explica o biólogo.
O alerta precoce permitiu que a Câmara de Águeda limpasse a pateira de Fermentelos do jacinto-de -água a tempo de evitar a cobertura da sua superfície. "Esta planta aquática cobriu 70 quilómetros do rio Guadiana, na Espanha, em 2005. Ela não permite a oxigenação e os peixes morrem. As suas sementes são minúsculas e podem ficar em estado de dormência por 20 anos. Se uma espécie está na Espanha é certo que chegará a Portugal, daí a importância da monitoração", assinala a engenheira florestal Ana Zúquete, do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
Acções concretas - como o controlo e a erradicação da acácia, desenvolvida pelo ICNB em parceria com universidades e ONG - precisam de ser tomadas em relação a outras espécies, na opinião do biólogo Luís Gordinho. "Variedades animais e vegetais identificadas e estudadas, se confirmados os danos para o ambiente e a comunidade, precisam de ser controladas de imediato. O bico-de-lacre (Estrilda estrild) naturalizou-se na década de 70 e já não é possível erradicá-lo. As medidas devem ser implantadas enquanto as espécies ainda podem ser eliminadas."
O alto custo dos projectos de pesquisa é uma das dificuldades do Instituto. "Custa dinheiro fazer pesquisa, exige tempo e uma equipa qualificada. Sem pesquisa fica difícil monitorar as espécies invasoras e analisar o seu real impacto", comenta Ana Zúquete. Luís Gordinho concorda com a engenheira florestal: "É preciso ciência para inventariar as espécies existentes e mensurar os danos ambientais, humanos e económicos. Há problemas que podem decorrer dos invasores e não são identificados pela ausência de observação continuada."
Isadora Ataíde
In DN Online
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