Vá para fora cá dentro: o Litoral Alentejano precisa de si!
Época balnear no litoral do Alentejo está a ser um desastre
Restauração e empresas de aluguer de apartamentos e quartos estão confrontados com uma inusitada ausência de veraneantes
"É uma sensação estranha atravessar de automóvel, em plena época balnear, as localidades costeiras do litoral alentejano de Azenha do Mar, Zambujeira do Mar, Almograve, Porto Covo ou São Torpes. As viaturas circulam sem estarem sujeitas a qualquer congestionamento de tráfego e até se consegue estacionar, logo à primeira, e em qualquer lugar. Nas praias da Zambujeira do Mar e Porto Covo, uma dúzia de chapéus de praia dispersam-se pelo areal que parece imenso, comparando-o com anos anteriores, quando os banhistas disputavam uma nesga de espaço para estender a toalha. Nas esplanadas abundam as cadeiras e mesas vazias ponteadas por meia dúzia de pessoas à volta de um pequeno prato com salada de polvo que cavaqueiam sobre o seu aborrecimento e consternação por tão fraco afluxo de turistas. Os turistas espanhóis são a ausência mais notada. Em anos anteriores, a sua presença chegou a ser superior à dos ingleses ou alemães. Desta vez, só aos fins-de-semana é que é possível ouvir o castelhano, e mesmo assim muito mitigado, a revelar que a crise também bate à porta de quem vinha a revelar-se como uma das principais fontes de rendimento dos empresários da restauração durante a época balnear na costa alentejana.
"Isto está muito mau", sintetiza a proprietária da empresa Atlântico, que negoceia no aluguer de apartamentos e quartos, na Zambujeira do Mar. A maior parte das casas "está vazia", prossegue. "Nem o tabaco se vende", diz a comerciante, que tem um quiosque para ajudar no negócio, mas que ainda não abriu, dado o tão reduzido número de turistas. É assim na primeira quinzena de Julho. "[Na segunda] tenho tudo vazio, ninguém marca quartos ou apartamentos", observa.
Na pensão Boa Esperança, em Porto Corvo, o estado de espírito não é diferente. "Este ano há pouca gente por todo o lado", comenta uma das funcionárias. No parque de campismo da ilha do Pessegueiro, a procura é boa "nos apartamentos caros", mas tendas e roulottes, "que são procuradas pelas classes mais baixas", são em muito menor número.
A escassez de veraneantes estende-se inevitavelmente aos estabelecimentos de restauração. No snack-bar O Martinho com uma excelente panorâmica para a praia da Zambujeira do Mar, a clientela "é fraca" e "pouco endinheirada", diz António Lopes. Com efeito, as escolhas dão preferência ao frango no churrasco com batata frita. Pedidos de peixe, "apenas pratos de sardinha de vez em quando" ou então "um peixito para sete pessoas para ficar mais barato". Há três anos, a clientela era muita e "até aceitava esperar pelo peixe que vinha da lota". Este ano é tão pouca que "nem dá para aquecer", apesar do calor. O mesmo acontece numa loja de recordações. A empregada queixa-se que as vendas "estão péssimas". Apenas entram turistas estrangeiros, sobretudo alemães e alguns ingleses. Mas mesmo estes torcem o nariz com os preços dos chapéus, das camisolas ou da panóplia de souvenirs. Em anos anteriores a clientela invadia o espaço. Agora e em plena hora do almoço a afluência é de um cliente de quarto em quarto de hora. As coisas pioram durante a tarde para voltarem a animar um pouco ao jantar e até à meia-noite. No entanto, "as pessoas só vão ao encontro do mais barato", afirma a jovem vendedora de recordações num ano que vai ser recordado pelas piores razões. "
Carlos Dias, 20.07.2008
In site Público
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