Mulheres vivem mais mas perdem na qualidade de vida
Morrem menos, mas ficam doentes na mesma altura da vida. A partir dos 45 anos, dá-se a viragem e sexo feminino fica em maioria na UE
"Apesar de viverem mais, as mulheres têm praticamente o mesmo tempo de vida saudável que os homens. Em alguns países, a esperança média de vida chega a ser superior em 11 anos no sexo feminino. Mas a longevidade não corresponde a uma maior qualidade de vida. Em vez disso, traz mais anos de sofrimento. Um cidadão europeu pode esperar viver em média 61,6 anos sem doenças graves ou moderadas, uma cidadã 62,1 - a diferença não chega a um ano. Em Portugal, os números não são muito diferentes, com a saúde das mulheres a durar em média até aos 58.
As conclusões do primeiro relatório sobre a saúde da população feminina na União Europeia, divulgado pela Comissão Europeia, mostram que há mais mulheres na Europa do que homens, apesar de nascerem menos bebés do sexo feminino. O ponto de viragem dá-se aos 45 anos, altura em que o sexo masculino começa a ficar em inferioridade numérica para nunca mais recuperar. "Entre os 65 e os 69 há mais 15% de mulheres e elas são já o dobro acima dos 80 anos", refere o relatório.
Se hoje uma mulher que nasça na União Europeia pode esperar viver até aos 76,5 ou 84,5, dependendo do país, em 2050 a esperança média de vida deverá atingir os 89,1 nos países mais desenvolvidos. O que representa um aumento de cinco anos em quatro décadas. Mas, esta subida fará disparar as doenças associadas à idade.
O relatório, elaborado pela Faculdade de Medicina Carl Gustav Carus, na Alemanha, refere que há patologias influenciadas pelo sexo. O exemplo vai para as doenças mentais, com as mulheres a sofrer mais de demência e Alzheimer. A demência afecta uma em cada 20 pessoas acima dos 65, uma em cinco acima dos 80 e uma em três acima dos 90, mas "há diferenças significativas de género". Acima dos 90, o risco é de 24 para os homens e de 82 para as mulheres.
Também a depressão "é mais comum no sexo feminino". A prevalência desta doença é de 17,1% ao longo da vida na população feminina, mas não passa dos 9,4% na população masculina. As tentativas de suicídio também reflectem esta diferença: são duas vezes mais elevadas em comparação com os homens.
Mas as mulheres são grupo de risco para outras doenças além das mentais. Têm mais probabilidade de desenvolver doenças como osteoartrite, artrite reumatóide e osteoporose. E serão responsáveis pelo crescimento esperado de 26% na diabetes até meados da próxima década. Portugal apresenta nesta área uma das taxas de mortalidade mais elevadas - 25,3 quando a média é de 12,8.
E quais as doenças responsáveis pelo maior número de mortes na população feminina? No topo da tabela estão os problemas cardiovasculares, seguida do cancro, com destaque para o cancro da mama com 29% dos óbitos por causas oncológicas.
A Comissão Europeia considera que, apesar de ser um aspecto relevante, ainda há poucos dados sobre o género na informação existente de saúde pública. E promete para breve uma nova radiografia, desta vez à saúde dos homens."
Rute Araújo (23 Janeiro 2010)
In Jornal I
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