Ele está no meio de nós: orações num iPod perto de si
É a igreja dos tempos modernos. A partir de hoje, os fiéis podem descarregar diariamente orações para o iPod e rezar no metro ou no trânsito. O projecto, falado em português, chama-se "Passo a rezar"
"Quando Bento XVI aterrar em Portugal, no dia 11 de Maio, poderá encontrar muitas pessoas com quem partilhar um dos mais recentes vícios de que tem desfrutado nos corredores do Vaticano. Desde 2006, o Santo Padre não larga o seu iPod nano de 2GB, oferecido por um grupo de funcionários da Rádio Vaticano na primeira visita de Bento XVI à estação, quando esta celebrava 75 anos de existência.
O Papa até está nomeado para um Brit Award - na categoria de Melhor Álbum de Música Clássica, uma vez que participa no disco "Alma Mater, Music from the Vatican" -, mas o seu iPod tem muito mais do que música. Bento XVI é um dos muitos fãs no mundo inteiro que se renderam ao projecto "Pray as you go", desenvolvido por jesuítas britânicos. O conceito, com milhares de seguidores diários, chega hoje a Portugal, falado em português. Chama-se "Passo a rezar" e traduz-se em dez minutos de oração diária em MP3. O objectivo da Igreja é acabar com a típica - e provavelmente mais repetida - desculpa dos fiéis para não rezar: falta de tempo.
Com a palavra de Deus no iPod, a oração passa a poder fazer-se individualmente em transportes públicos, no trânsito, no trabalho ou até durante outras actividades prosaicas como a corrida matinal ou as tarefas domésticas. O serviço é gratuito e os conteúdos são disponibilizados no site www.passo-a-rezar.net, em formato MP3 e WMA. A oração diária inclui um trecho do Evangelho, seguido de uma meditação. Tudo acompanhado com música de fundo - desde música sacra contemporânea, a música do mundo, incluindo portuguesa.
Modernizar a Igreja
O site ainda não estava disponível e já tinha recebido, a meio da tarde de ontem, mais de 2 mil pré-inscrições de utilizadores interessados em receber os conteúdos. "A maioria já seguia a versão inglesa", garante um dos mentores do projecto, o jesuíta Francisco Martins.
O conceito português apresenta algumas inovações. Desde logo, não é obrigatório fazer o download dos ficheiros - ao contrário do que acontece em Inglaterra. "Estão disponíveis para ouvir na hora, o que poupa tempo a quem estiver ao computador", explica. Por outro lado, o download pode fazer-se em duas modalidades: descarregando um conjunto de orações semanal, ou diariamente, ficheiro a ficheiro.
O conceito, garantem os jesuítas, assenta na noção de mobilidade. E está ajustado ao estilo de vida urbano. "As pessoas já não rezam só na igreja. Queremos responder à necessidade de rezar onde o ritmo da vida o impõe", justifica Francisco Martins ao i. Até porque, garante, "a ida para o trabalho já é propícia a uma certa reflexão e introspecção. O que queremos é que essa meditação passe a ser feita através do encontro com Deus".
Castings
O trabalho da Companhia de Jesus, através da obra do "Apostolado da Oração", começou nos estúdios da Rádio Renascença em Setembro. O jornalista da SIC Paulo Nogueira e 17 voluntários - "advogados, gestores, empresários" - emprestaram a voz às orações. No final de Novembro, arrancava a fase de castings para escolher as melhores vozes - dos 50 candidatos iniciais, sobraram menos de 20 colaboradores, depois das provas vocais. "O conceito pode parecer demasiado simples, mas o projecto deu muito trabalho, desde as gravações até ao licenciamento das músicas, passando pelos testes de conteúdos", recorda o jesuíta.
Ontem, ao final da tarde, ficaram disponíveis para download os primeiros ficheiros, com as orações diárias das próximas duas semanas. A partir de agora, a equipa responsável pelo projecto compromete-se a continuar a propor aos fiéis que substituam a música e o auto-rádio nas viagens de carro por orações. Duas vezes por mês - uma em Lisboa e outra no Porto - serão gravados os conteúdos para o mês seguinte.
Só não há orações para os fins-de-semana. Deus tira folga aos sábados e domingos? Francisco Martins garante que não. "O projecto é pensado para o frenesi dos dias úteis e aos fins-de-semana há outra forma de cultivar a vida cristã", esclarece."
In Jornal I
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