A Campanha Charcos com Vida
CIBIO-Div, Faculdade de Ciências, Gab n.º 289
Rua do Campo Alegre, 4169-007 Porto
E-Mail: geral@charcoscomvida.org
Telm.: (+351) 918 181 587
Telf.: (+351) 220 402 809
www.charcoscomvida.org
A Campanha “Charcos com Vida” pretende incentivar as entidades aderentes a descobrir, valorizar e investigar os charcos e a sua biodiversidade. Para tal, as entidades são convidadas a realizar um conjunto de actividades de exploração científica e pedagógica, que visam contribuir para o conhecimento da biodiversidade e importância destes habitats, bem como sensibilizar e mobilizar a comunidade escolar e local para a preservação dos charcos enquanto reservatórios de biodiversidade e laboratórios vivos.
Esta campanha é direccionada para todas as escolas nacionais do ensino básico e secundário, sendo aberta à participação de outras entidades, como associações, câmaras municipais, centros de educação ambiental e particulares. Consoante a existência de charcos nas redondezas ou a disponibilidade de terrenos próprios com condições apropriadas, as entidades aderentes poderão adoptar um charco natural em áreas próximas ou construir um nas suas instalações, segundo as instruções fornecidas.
Compromissos
As entidades aderentes comprometem-se a assegurar a manutenção dos charcos e a realizar actividades regulares de exploração pedagógica e de seguimento do charco, adaptadas aos diferentes anos lectivos, incluindo por exemplo:
• Localização e inventário de charcos da região;
• Identificação e monitorização da fauna e da flora associada ao charco;
• Observação da vida microscópica e seguimento de diferentes ciclos de vida;
• Avaliação da qualidade da água e experiências laboratoriais de carácter prático sobre o impacto de poluentes sobre a biodiversidade;
• Actividades e jogos pedagógicos para explorar de forma lúdica a biodiversidade destes habitats e a importância da sua conservação;
• Apresentação do charco e da sua biodiversidade à comunidade escolar e às populações locais.
Todas as actividades, formulários e informação serão disponibilizadas nas diferentes áreas deste site (ainda em fase de actualização, mas que se prevê concluir em breve), sendo prestado todo o apoio através dos contactos fornecidos ou, quando possível (nomeadamente na Área Metropolitana do Porto), de forma presencial.
O que é um charco?
Os charcos são massas de água parada ou de corrente muito reduzida, de carácter permanente ou temporário, de tamanho superior a uma poça (pequena massa de água efémera, que normalmente é possível atravessar com um só passo) e inferior a um lago (massa de água com mais de 1 hectare (ha.) de superfície e uma profundidade que permite a sua estratificação). A duração dos charcos pode ser muito variável consoante o clima e a geologia do local, mas para os objectivos deste projecto considera-se que deverão ter uma duração mínima de quatro meses.
Não existe uma definição universal sobre o termo charco, uma vez que em cada país, e mesmo dentro do mesmo país, as definições podem variar (por exemplo, no Reino Unido consideram-se como charcos massas de água até 2 ha.).
Os charcos diferenciam-se dos lagos e das lagoas pela sua baixa profundidade, penetração total da luz na água, possibilidade de ocorrência de plantas em toda a sua área e ausência de estratificação da temperatura da água e de formação de ondas.
Os lagos são massas de água de dimensões muito maiores e permanentes. Actualmente, não se formam lagos novos, dado que, os lagos existentes hoje em dia foram formados por fenómenos geológicos que ocorreram há muito tempo atrás.
Os charcos podem ser formados através de processos naturais, geológicos ou ecológicos, ou, mais vulgarmente, como resultado de actividades humanas, intencionais ou não. Estas depressões no terreno formam charcos quando conseguem reter uma quantidade suficiente de água da chuva ou proveniente de lençóis freáticos próximos da superfície.
Muitas plantas e animais evoluíram desde há milhões de anos no sentido de se adaptarem às condições de sobrevivência particulares dos charcos, sendo actualmente dependentes deste tipo de habitat para a sua sobrevivência.
Os charcos são ecossistemas frágeis e instáveis, uma vez que, devido às suas reduzidas dimensões e volume de água, pequenas alterações do meio ou do regime de chuvas podem originar grandes flutuações ou mudanças ecológicas.
Os charcos podem apresentar níveis de biodiversidade muito superiores quando comparados com grandes massas de água, como lagos e lagoas, podendo mesmo considerar-se hotspots de biodiversidade em termos locais.
Globalmente existem aproximadamente 300 milhões de massas de água de dimensões até 10 hectares, contra cerca de 5 milhões de lagos.
Os Charcos Temporários Mediterrânicos são charcos de regiões quentes, nos quais existe uma alternância anual entre uma fase seca (nos meses mais áridos) e uma fase inundada (nos meses com maior pluviosidade).
As comunidades biológicas destes habitats desenvolveram estratégias adaptativas extremas à alternância entre períodos secos e alagados, tais como formas de resistência à seca ou a capacidade eficaz de migração para outros locais. Como resultado, as espécies presentes apresentam características únicas e são frequentemente raras ou exclusivas destes meios.
Por exemplo, a vegetação colonizadora de charcos temporários mediterrânicos tem uma composição florística muito particular, dominada principalmente por plantas anuais e herbáceas perenes que aparecem durante o Inverno e Primavera e que produzem um grande número de sementes que sobrevive aos períodos de seca. Muitas espécies de micro e macro-crustários produzem ovos de dormência com uma casca dura capaz de resistir no fundo do charco seco durante todo o Verão.
Devido à sua fragilidade, singularidade e riqueza ecológica, os charcos temporários mediterrânicos estão inscritos no Anexo I da Directiva Habitats como habitats prioritários em termos de conservação (habitat 3170), o que proíbe por lei a sua destruição e exige a designação de Zonas Especiais de Conservação (ZEC) para garantir a sua preservação. Apesar disso, a realidade mostra uma regressão generalizada destes habitats em toda a bacia mediterrânica.
Importância dos Charcos
O valor dos charcos é frequentemente desconhecido ou até depreciado pela população em geral, mas na verdade apresentam uma importância ecológica e funções ambientais muito relevantes.
Biodiversidade - Alguns estudos mostram que o conjunto de charcos do planeta alberga mais biodiversidade do que os rios e lagos, bem como um maior número de espécies raras e ameaçadas. Muitas plantas aquáticas e animais (como anfíbios e macro-invertebrados) estão totalmente dependentes destes habitats para sobreviver ou reproduzir-se. Ao nível microscópico, inúmeras espécies de zoo e fitoplâncton ocorrem exclusivamente em charcos. Estas massas de água proporcionam também alimento e refúgio para numerosas espécies terrestres.
Reserva de água doce - Os milhões de charcos com menos de 10 hectares do mundo inteiro representam 30% da superfície mundial de água doce, constituindo um excelente instrumento na gestão da água ao nível local.
Sumidouro de carbono - Os charcos recolhem e armazenam largas quantidades de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, ajudando a regular o clima. Estudos recentes sugerem que, devido ao seu alto número e produtividade primária, os charcos a nível mundial podem armazenar tanto carbono com os oceanos.
Produtividade primária - Os charcos apresentam uma elevada produtividade primária (quantidade de matéria orgânica produzida pelas algas e plantas a partir da energia solar), constituindo meios muito importantes de entrada e transferência de energia para os níveis tróficos superiores e os ecossistemas circundantes.
Serviços ambientais - Os charcos têm importantes funções ambientais, como a amenização do efeito de cheias, a manutenção da humidade do solo em períodos secos, a purificação da água e o abastecimento dos aquíferos subterrâneos. Além disso, têm um papel importante ao nível da produção de oxigénio (fotossíntese das algas e plantas aquáticas), do ciclo de nutrientes, e da formação do solo.
Agricultura - Nos sistemas agro-pecuários tradicionais, os charcos têm funções importantes como bebedouros para o gado e associados a sistemas de rega.
Controlo de pragas - Algumas espécies que ocorrem em charcos, como os anfíbios e libélulas, ajudam a controlar pragas agrícolas ou insectos vectores de doenças.
Valor paisagístico - Os charcos e lagoas têm um importante valor estético e paisagístico, criando espelhos de água, que constituem espaços de contemplação e constituem elementos imprescindíveis nos parques e jardins modernos.
Valor educativo - Os charcos são importantes recursos educativos e no contexto do eco-turismo, pois permitem a realização de numerosas actividades de carácter lúdico-científico, como a observação de aves, anfíbios e outros animais, etc.
Valor científico - Os charcos são locais de estudo de excelência para numerosas áreas da ciência, como a biologia, geologia e hidrologia. Além da biodiversidade dos charcos e sua ecologia, dos ciclos de nutrientes, etc., também os sedimentos dos charcos podem fornecer informações importantes sobre a história do meio ambiente (registo de pólen e reconstituição do clima dos últimos séculos ou até milénios, vestígios arqueológicos, etc.)
Degradação e destruição de charcos
A degradação e destruição física das zonas húmidas estão associadas a alterações do uso dos solos, devido à expansão de áreas urbanizadas, plantações florestais exóticas (eucaliptais), agricultura intensiva, barragens, vias de comunicação e outras infra-estruturas. O abandono da agricultura tradicional tem igualmente levado ao desaparecimento de inúmeros charcos e tanques associados a este modo de produção.
A drenagem de zonas húmidas para fins agrícolas ou florestais tem igualmente impactos significativos sobre a sua biodiversidade, podendo levar à perda ou degradação de charcos e terrenos alagados.
A perda física de charcos tem consequências graves para a biodiversidade. A redução do número de charcos na paisagem tem também como consequências a fragmentação e o aumento da distância entre as massas de água existentes, dificultando a capacidade de dispersão e de colonização dos organismos.
Poluição - Os charcos são particularmente vulneráveis aos vários tipos de poluição, devido ao baixo volume de água que conseguem armazenar, resultando numa reduzida capacidade para diluir os poluentes.
A principal fonte de poluição química destes habitats provém de agro-químicos utilizados na agricultura. Os adubos sintéticos, pesticidas e herbicidas chegam aos charcos por escorrência da água da chuva ou de rega, contaminando os solos, água superficial e aquíferos. O aumento da concentração de nutrientes, como fosfatos e nitratos, altera toda a dinâmica ecológica das massas de água, levando à sua eutrofização, resultando na proliferação de microalgas e redução da restante biodiversidade, incluindo plantas macrófitas, zooplâncton, macro-invertebrados e anfíbios. Os agro-químicos possuem também uma elevada toxicidade, podendo originar fenómenos de mortalidade massiva ou malformações em espécies mais sensíveis, nomeadamente de anfíbios.
A poluição orgânica causada por descargas de efluentes pecuários ou domésticos degradam a qualidade da água, levando a uma redução do oxigénio dissolvido e aumento da turbidez da água. A elevada concentração de microrganismos pode também representar um potencial risco para a saúde pública.
A deposição ilegal de resíduos sólidos e a colmatação dos charcos com lixo é outra ameaça frequente. A deposição de lixo em locais não autorizados, além de ser ilegal e sujeito ao pagamento de coima, provoca impactos sobre a biodiversidade, estética da paisagem e segurança.
Espécies exóticas - A introdução de animais e vegetais exóticos em charcos ou outras massas de água causa frequentemente impactos importantes na biodiversidade nativa (autóctone). Os impactos da introdução de qualquer espécie de peixe ou de animais exóticos, como o lagostim-vermelho-da-Louisiana, a tartaruga-da-Flórida e incluem a predação, a competição pelo alimento ou local de reprodução e a introdução de doenças. Algumas plantas exóticas invasivas, como o jacinto-de-água e a azola, ocupam toda a superfície de água, impedindo a entrada de luz e diminuindo a quantidade de oxigénio na água.
Práticas de gestão incorrectas - Algumas práticas de gestão incorrecta acarretam impactos importantes na biodiversidade das massas de água. Alguns dos erros mais comuns praticados nestas zonas húmidas incluem:
• A destruição da vegetação marginal e remoção de plantas aquáticas diminuem a biodiversidade vegetal e os locais de abrigo disponíveis para as espécies faunísticas que habitam nestes locais.
• A remoção de sedimentos através da dragagem com finalidade de limpar ou aprofundar o charco pode alterar a dinâmica do charco e a sua biodiversidade, destruir uma grande quantidade de organismos (plantas, sementes, invertebrados e suas formas de resistência, etc.) e promover a introdução de espécies exóticas.
• A introdução de espécies exóticas efectuada com fins estéticos ou para pesca é uma das piores ameaças para os charcos, devendo ser evitada a todo o custo.
Alterações climáticas - A alteração dos regimes de pluviosidade e o aumento da temperatura e dos períodos de seca podem levar a uma menor disponibilidade e duração da água (hidroperíodo) dos charcos. Tal facto apresenta consequências graves para a biodiversidade, levando nomeadamente à inviabilização da reprodução de diferentes espécies dos anfíbios e outros grupos. Além disso, a redução de profundidade de massas de água aumenta a exposição dos ovos e girinos dos anfíbios aos raios UV, podendo provocar mutações genéticas e deficiências do sistema imune, aumentando a sua mortalidade e vulnerabilidade a doenças.
In Charcos com Vida
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