quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A saúde da boca

Actualmente, grande parte da população portuguesa com mais de 40 anos não possui cerca de metade dos dentes. É também um facto que, tal como a gripe, a cárie dentária é uma das doenças mais frequentes no mundo. Não obstante a permanente evolução na área da saúde oral, as inúmeras campanhas de sensibilização realizadas e o facto de cada vez haver mais dentistas, as doenças que afectam a boca (dentes e gengivas) são ainda uma realidade do nosso tempo.
A predisposição genética é um factor a considerar, contudo, a saúde dos dentes e das gengivas depende maioritariamente da alimentação e dos hábitos de higiene.
A placa bacteriana (camada que se fixa nos dentes), é responsável por grande parte das doenças que afectam a boca, nomeadamente a cárie dentária. A placa bacteriana alimenta-se principalmente do açúcar que ingerimos e, se não for removida, transforma-se em tártaro. As toxinas produzidas pelas bactérias da placa bacteriana afectam a saúde dos dentes, causando o aparecimento de inflamações nas gengivas (gengivite), na membrana periodontal (periodontite ou piorreia) e na própria raiz do dente.
No que respeita aos sintomas podem verificar-se hemorragias durante a escovagem, gengivas inchadas e vermelhas, gengivas das quais se tenham soltado os dentes, mau hálito persistente, dor ao mastigar ou dentes que abanam ou se movem enquanto comemos, etc. Podem mesmo surgir abcessos nas gengivas originando lesões e infecções graves nas gengivas e dentes. No caso de ocorrer alguma destas situações deverá, sem demora, consultar o dentista.
O principal responsável pela formação da placa bacteriana é, como referido anteriormente, o açúcar. Por outro lado, o álcool em excesso contribui também para o aparecimento da placa bacteriana. A carência de determinadas vitaminas, nomeadamente de vitamina C, está ainda relacionada com várias doenças periodentais
Assim, em termos gerais, e no que respeita à nutrição, recomenda-se uma dieta rica em nutrientes extraídos de alimentos integrais, vegetais, fruta, peixe, etc. Devem evitar-se os alimentos ricos em açúcar, hidratos de carbono refinados, sal, álcool, gorduras, etc.
A melhor forma de evitar este tipo de doenças, é sem dúvida através da prevenção. Para além dos cuidados alimentares referidos, a higiene é também muito importante. A escovagem eficaz (três vezes ao dia), com uma escova adequada, o uso de um dentífrico com flúor e a utilização de fio dental devem fazer parte dos hábitos higiénicos diários. De acordo com alguns investigadores, o facto de mastigarmos uma pastilha elástica sem açúcar após as refeições pode ajudar a reduzir o aparecimento da placa bacteriana. Esta vantagem reside no facto de se produzir mais saliva ao mastigar, activando assim, as capacidades de defesa, de forma a inibir os resultados da ingestão de alimentos ricos em açúcar e a consequente produção de ácidos. Contudo, o uso de pastilhas elásticas em excesso pode ser prejudicial a vários níveis, especialmente se contiverem açúcar.
A visita regular ao dentista é essencial e não deve ser apenas feita para tratar os dentes que se encontram danificados. Para além do tratamento, o dentista explica a importância da saúde da boca e ajuda a prevenir o reaparecimento deste tipo de afecções.
Para além dos cuidados alimentares, dos hábitos de higiene e da visita regular ao dentista, existem alguns suplementos alimentares que podem ajudar a colmatar as doenças orais.
O suplemento mais eficaz na prevenção das doenças orais é o flúor. Este mineral, ajuda a inibir a perda de qualidade do esmalte, ao mesmo tempo que ajuda na sua remineralização. Uma das formas mais comuns de fornecer flúor aos dentes é através dos dentífricos. Porém, segundo alguns investigadores, as regiões onde a água de consumo contém 1ppm (uma parte por milhão), os habitantes apresentam muito menos cáries, chegando esta redução a ser de mais de 50% em algumas populações. Em alguns países o flúor é adicionado nas centrais de tratamento da água domiciliária, o que não acontece ainda em Portugal. A suplementação através de comprimidos de flúor que se dão às crianças até aos 12 anos de idade e também a grávidas, a partir do 5.º mês, é também uma importante forma de prevenção.
No que respeita às vitaminas, destaca-se a acção da vitamina C e a da rutina, principalmente na prevenção do sangramento das gengivas. São ainda importantes os bioflavonóides, a vitamina A (especialmente beta-caroteno), E e D, e o ácido fólico. No caso dos minerais, para além do flúor, são importantes o cálcio (desde a infância), o zinco e o selénio. Outros suplementos que beneficiam a saúde oral são a coenzima Q-10 e a l-lisina.
Quando surge mau hálito, a suplementação com acidophilus e enzimas digestivas (bromelaína, papaína) pode ser benéfica, pois estes suplementos actuam a nível do tracto digestivo. A utilização de elixires elaborados à base de clorofila, hortelã-pimenta, equinácea, entre outros pode ser ainda útil nestes casos. Mastigar salsa ou cravinho é outra opção. Maus hábitos, como fumar agravam situações de mau hálito e prejudicam a saúde dos dentes.

Pedro Lôbo do Vale (Médico)
in Celeiro

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