Morrem 42 mil pessoas com cancro por ano em Portugal
Liga Portuguesa Contra o Cancro
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O número é assustador. Morrem por ano 42 mil pessoas com cancro em Portugal. A estatística é da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) que deixa ainda outro alerta. “Se não forem tomadas medidas na prevenção a nível mundial, na Europa e mesmo a nível nacional, a Organização Mundial da Saúde estima que o número de mortes aumente para o dobro”, diz ao GRANDE PORTO, o presidente do Núcleo Norte da LPCC, Vítor Veloso.
Segundo os dados do responsável, anterior presidente nacional da LPCC, “a incidência é de 12, 7 milhões de novos casos de cancro em todo o mundo. Todos os dias, em todo o mundo, morrem 7,6 milhões de pessoas com cancro”, explica o médico remetendo para os números registados em 2008. “É um número catastrófico, assustador. É preciso que a União Europeia melhore a prevenção primária e secundária e o diagnóstico e o tratamento”, sublinha.
Em Portugal, Vítor Veloso, que durante mais de dez anos foi director do Instituto Português de Oncologia do Porto, lamenta que a prevenção não seja “uma tarefa muito atractiva onde o Estado deseje investir. Os resultados não sendo imediatos, não são politicamente atractivos”, refere. Para colmatar essa lacuna, Vítor Veloso salienta a importância da existência da LPCC. “A Liga é a única que faz esforços em Portugal na prevenção primária e tem sido a Liga a fazer o que o Estado devia fazer”, diz o clínico.
Entre as áreas onde a LPCC se destaca mais, Veloso sublinha o rastreio do cancro da mama. “Temos um protocolo com o Ministério da Saúde e esperamos que nos próximos três anos toda a população do Norte tenha acesso a rastreio gratuito”, diz. A LPCC Norte prepara-se para comprar uma unidade móvel de rastreio do cancro da mama, mais uma vez à custa de peditórios. “Perdemos dinheiro com o rastreio do cancro da mama. E o Estado não dá qualquer apoio. Cada unidade móvel custa 200 mil euros e ninguém nos paga essas unidades. Ás vezes temos dádivas”, ironiza.
O responsável lamenta ainda que o rastreio do cancro do colo do útero e do cancro rectal não chegue ainda a todas as pessoas. “Não está completamente coberto. Não há a devida coordenação”, lamenta.
VOLUNTARIADO DA LIGA
Para Vítor Veloso o bem mais valioso da Liga reside nos voluntários. Em todo o país a LPCC tem dois mil voluntários. Só no Porto existem 500. “Fazemos apoio nas enfermarias, distribuimos jornais e alimentação. Construímos até uma cafetaria no IPO que nos custou 300 mil euros para que os nosso doentes tenham um salão agradável”, explica Vítor Veloso lembrando ainda que os voluntários, provenientes de todas as classes sociais, profissões e idades, dão também apoio psicológico aos doentes.
CORTES NO IPO
“Numa altura de crise em que o Governo pede aos hospitais para poupar, torna-se ainda mais importante o nosso voluntariado. No IPO do Porto e Lisboa pede-se um aumento de produtividade com menos gastos. Ora se o médico tem de atender mais doentes então passa a ter menos tempo de humanização. É ai que a Liga entra em acção”, diz.
De resto, Vítor Veloso diz que a crise também chegou à LPCC. A estrutura sente os efeitos da crise em especial nos peditórios, a única forma de subsistência da LPCC. “Por isso, temos de diversificar a forma de pedir. Mas cada vez é mais difícil. Temos outras actividades da angariação de fundos. Tudo que é angariado é bem empregue na LPCC. Não temos absolutamente nenhum apoio do Estado, salvo o apoio indirecto que é aquele que advém da possibilidade de cada um doar 0,5 por cento do seu IRC para uma organização não-governamental”, diz Vítor Veloso.
O médico não poupa críticas ao “dinheiro mal gasto pelo Estado. “O Estado devia apoiar mais. Gasta-se dinheiro muito mal gasto. Muitos milhões até. Ainda agora gastaram sete milhões em automóveis novos para o Estado. Acho isso inconcebível”, critica. LIGA ESTÁ BEM DE SAÚDE Apesar das críticas, o presidente do Núcleo Norte da LPCC, diz que a “Liga está saudável do ponto de vista financeiro. Vítor Veloso admite, contudo, que a LPCC teve de fazer um plano de austeridade e alterar os hábitos que havia com alguns gastos. “Tentou-se apertar o cinto. Mais do que ninguém, temos de dar o exemplo. O nosso orçamento geral é de cerca de 20 milhões de euros por ano”, esclarece o médico.
A Liga vive da solidariedade dos voluntários, contudo o financiamento é um ponto essencial para sua sobrevivência. É dele que depende o desenvolvimento de várias actividades viradas para a sociedade. “Todos os anos fazemos a acção ‘Um dia pela vida’ em que percorremos as cidades do País durante quatro meses e em que temos acções diárias com equipas locais para a prevenção e sensibilização das populações”, afirma.
É com alguma alegria que Vítor Veloso apresenta as valências do voluntariado da organização. “Temos uma voluntária que ainda cá trabalha, com 80 anos”, diz.
in Liga Portuguesa Contra o Cancro
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