Fábrica de Chá Gorreana – Ribeira Grande/Açores
Estrada Regional
Gorreana de Cima
9625-304 Maia (São Miguel)
Tel.: 296442349
www.gorreana.com
O chá das 5… gerações
A mais antiga fábrica de chá da Europa continua a utilizar os ensinamentos chineses e as técnicas seculares que foram passando de geração em geração. Mais do que um exemplo vivo de arqueologia industrial, aqui bebe-se uma chávena de história com gostinho açoriano.
A funcionar de forma ininterrupta desde 1883, a Fábrica de Chá Gorrena deve o seu impulso inicial a dois chineses oriundos de Macau – o mestre Lau-a-Pau e o ajudante Lau-a-Teng – que levaram várias sementes para os Açores e ensinaram as complexas técnicas orientais da preparação do chá.
Desde então, já lá vão cinco gerações, que a unidade pertence à família da fundadora, Hermelinda Gago da Câmara, tendo sido a única que resistiu sempre a todas as crises. Longe vão os tempos em que chegaram a existir 16 plantações em toda a ilha de São Miguel...
Em 1998 ressurgiu também a Fábrica de Chá de Porto Formoso, situada ali bem perto, que tinha fechado portas nos anos 80. Juntas, fazem agora desta ilha o único local da Europa que utiliza a planta do chá para fins industriais.
Rumo ao Norte
Chegar à Gorreana não tem nada que enganar. Seja a partir da Ribeira Grande ou das Furnas é só seguir em direcção à estrada da costa norte e, já na freguesia da Maia, ficar atento ao cruzamento para a Lagoa de São Brás, porque é junto a ele que está a fábrica.
O edifício principal, com o nome pintado a vermelho vivo numa fachada totalmente branca, surge enquadrado pelas plantações que descem em anfiteatro pela encosta, sempre com o mar em pano de fundo. Um regalo para os olhos.
Próximo da entrada está uma antiga máquina a vapor (a primeira locomóvel dos Açores) que em tempos foi utilizada para fornecer energia, mas hoje serve de mote para o autêntico museu vivo que iremos descobrir no interior.
O jogo da glória… do chá
As portas estão abertas a todos os visitantes que podem passear gratuita e livremente pela unidade numa espécie de viagem por etapas que desfia o processo de produção do chá. No fundo, é como se cada sala correspondesse a uma fase da transformação, sempre com respeito pelas técnicas tradicionais.
Esta preocupação revela-se logo na área dos enroladores, onde as folhas são processadas ainda de forma ortodoxa, ou seja, com o cuidado de não serem esmagadas ou partidas aos bocadinhos. Há muito que as fábricas mais modernas deixaram de utilizar este método (mais demorado e dispendioso) mas no final é o sabor que sai a ganhar.
Segue-se a sala da oxidação, uma cave com pouca luz onde o chá é deixado a “fermentar” em compartimentos de madeira e, logo depois, surgem as áreas do aquecimento das folhas, da secagem, da calibragem e, finalmente, do ensaque.
É aqui que admiramos a perícia das mulheres a escolherem o chá à mão, antes de ser ensacado em duas máquinas mais recente, as únicas com ares de modernidade. Todas as outras têm quase tantos anos como a fábrica, parecendo autênticas peças de museu que, para deleite dos visitantes, continuam teimosamente a trabalhar.
No final, é claro que não podíamos deixar de experimentar o resultado de todo este processo e, sobretudo, tentar descobrir as diferenças e afinidades entre as quatro variedades de chá produzidas na Gorreana.
Destas, só uma é de chá verde – a Hysson - enquanto as restantes três são de chá preto: Orange Pekoe, muito leve e aromático, por ser proveniente da primeira folha do rebento; Pekoe, mais forte e menos aromático (das folhas do meio); e o Broken Leaf, o mais leve e menos aromático, uma vez que é feito sobretudo das folhas exteriores, inevitavelmente mais velhas e partidas.
Junto à loja (onde se podem comprar todas estas variedades e outras recordações dos Açores) já existe uma sala de chá, com vistas privilegiadas para as plantações e para o mar, mas enquanto não entrar em funcionamento as “provas” são feitas noutro local, em pé, mas rodeadas de história(s).
É assim, entre máquinas e ferramentas antigas, fotos de outrora e bancadas desgastadas pelo tempo que bebemos o famoso chá da Gorreana. Açoriano, como sempre, e orgulhosamente à moda antiga.
Nelson Jerónimo Rodrigues, in Lifecooler
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