O vinho tinto é daqueles alimentos que merecem uma enciclopédia e não apenas um mero texto, de tão rica história e propriedades sensoriais e nutricionais que o elevam ao patamar de “instituição” no nosso país.
Em tempos que não deixam saudades, era comum dizer que beber um copo de vinho era dar de comer a um milhão de portugueses, algo que reflecte bem a importância que o vinho sempre teve na nossa cultura, não sendo assim de estranhar que tenhamos o maior consumo per capita mundial deste néctar dos deuses, sendo igualmente o nosso país o seu 10.º maior produtor mundial.
Que a ingestão de vinho tinto quando moderada traz benefícios para a nossa saúde não é hoje em dia novidade para ninguém. Aliás, estes efeitos benéficos do vinho tinto começaram precisamente a ser levados em conta pelo seu efeito “compensador” de alguns hábitos menos saudáveis como a ingestão de gorduras saturadas. O Paradoxo Francês, como ficou conhecido, relatava que, apesar da tradicional ingestão de queijos e outros alimentos ricos em gorduras saturadas pelos franceses, a concomitante ingestão de vinho tinto fazia com que registassem uma menor incidência de morte por doenças cardiovasculares que outras populações em estudo.
Historicamente, o vinho sempre foi visto como tendo o condão de melhorar a qualidade de vida daqueles que dele usufruíam. Hoje em dia, para além de se saber que o consumo moderado de vinho tinto (1 copo/dia para as mulheres; até 2 copos/dia para os homens) implica uma melhoria na saúde cardiovascular, é também sabido que o seu padrão de ingestão é importantíssimo para a observação destes efeitos. Assim, mesmo respeitando as quantidades atrás mencionadas, é totalmente diferente se a sua ingestão for paulatina no contexto de uma semana e no decorrer de uma refeição, do que se for aglomerada aos fins-de-semana num comportamento de binge-drinking.
Existem alimentos com maior teor de polifenóis que o vinho, da mesma maneira que existem bebidas com maior quantidade de álcool, no entanto, o vinho tinto consegue estabelecer um grande equilíbrio e sinergia entre estes dois compostos, com benefícios comprovados na vasodilatação e consequente actividade anti-aterosclerótica. Para além destes efeitos, os superpolifenóis do vinho, de seus nomes resveratrol e procianidinas, têm ultimamente estado associados a uma indução da expressão de alguns genes associados à longevidade, algo que há muito fazia parte da crença popular e que agora ganha o epíteto de cientificamente comprovado.
O vinho tinto faz assim a conjugação perfeita de benefício sensorial e nutricional. Com calma, a acompanhar uma refeição equilibrada e com a moderação que se exige, a melhor maneira de o apreciar é também aquela que melhor nos oferece todos os seus benefícios.
Pedro Carvalho, nutricionista (pedrocarvalho@fcna.up.pt)
in Lifestyle Público
Sem comentários:
Enviar um comentário