Um recente estudo do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) refere que o processo utilizado pelas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) não é suficientemente eficaz para eliminar resíduos de medicamentos. A contaminação do ambiente – águas e solos – são as principais repercussões.
O estudo centra-se em três antibióticos (amoxicilina, tetraciclina e trimetoprim) e um anti-inflamatório (ibuprofeno), pelo facto de serem os fármacos mais consumidos. O projeto do ISEP, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, passa por encontrar soluções para a reabilitação de solos contaminados por estes produtos.
Os resultados obtidos indicam que os medicamentos não são totalmente removidos (especialmente o ibuprofeno) pelo tratamento com lamas anaeróbias. O que significa que para além da contaminação dos cursos de água onde se fazem as descargas dos efluentes destas ETAR, também os solos irrigados com estas águas ficam contaminados.
Por vezes, nas imediações das descargas das ETAR existem não só pequenas hortas familiares, como também parques infantis, ficando todo o meio ambiente envolvente e, consequentemente, a população, exposta aos efeitos da contaminação. O problema da multi-resistência aos antibióticos pode ser apenas uma das consequências. Por isso, os fármacos são hoje classificados como poluentes emergentes.
“Não tem havido uma consciencialização para este tipo de problema”, indica Valentina Domingues, docente do ISEP e membro da equipa de investigação. O problema não é exclusivo de Portugal e é por isso que a comunidade científica tem vindo a debruçar-se sobre este assunto.
As ETAR revelam debilidades no processo de tratamento das águas residuais, nomeadamente no que concerne aos compostos farmacêuticos. “Trata-se de um problema global e é complicado melhorar a eficiência das estações de tratamento. Temos de resolver o problema a montante”, afirma a investigadora.
Os resultados agora obtidos inserem-se num projeto mais amplo intitulado «Reabilitação de solos contaminados por produtos farmacêuticos». O objectivo é criar mecanismos capazes de minimizar o impacto dos compostos farmacêuticos no meio ambiente e consequentemente na saúde das populações.
“A presença de fármacos no meio ambiente é uma realidade, tornando-se urgente encontrar técnicas de remediação que permitam reabilitar os solos”, defende. Está, por isso a ser desenvolvida uma metodologia alternativa 'verde' e de baixo custo.
“Os resultados preliminares parecem ser promissores. Este problema associado à inexistência de uma legislação para a qualidade dos solos, para a qual temos vindo a alertar, leva a que pouco seja feito para inverter a situação, mesmo estando ao dispor diversas tecnologias de tratamento. É urgente dar este passo rumo à protecção ambiental”, conclui a investigadora do ISEP.
in Ciência Hoje
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