As sementes de chia, quiçá pela sua origem, têm surgido ultimamente como o novo “El Dorado” da alimentação saudável. Com tremendas quantidades de fibra, proteína, ácidos gordos ómega 3 e cálcio, a fórmula parece ser de sucesso, mas... resultará mesmo?
A sua história diz que sim! Para além da sua denominação estar ligada à palavra maia para “força”, foram justamente os Maias e os Astecas que durante largos anos fizeram destas sementes a base da sua alimentação juntamente com o milho e o feijão. Existem até relatos que lhes conferem o misticismo típico nestas ocasiões onde duas colheres de sopa destas sementes seriam suficientes para “24 horas de sobrevivência”.
Para 24 horas não será seguramente, mas certo é que as sementes de chia possuem tudo o que um alimento deve ter quando o objectivo é a redução do apetite: fibra, proteína e gordura (que, neste caso, é das boas). Vale a pena fazer a análise da chia sob o prisma das suas gorduras uma vez que é uma das raras excepções que apresenta maiores níveis de ómega 3 do que de ómega 6. O balanço da ingestão destes dois conjuntos de ácidos gordos essenciais é um tópico não muito explorado na opinião pública. No entanto, o elevado ratio da ingestão de ómega 6/ómega 3 encontrado no padrão alimentar ocidental (15 para 1, quando o ideal seria menos de 6 para 1) está associado à patogénese de doenças cardiovasculares, cancro e doenças auto-imunes. Daí que adicionar à nossa alimentação alimentos que contrariem esta tendência será sempre uma opção a considerar.
Relativamente aos seus propalados efeitos na saúde, com a perda de peso à cabeça da lista, a história já não é assim tão linear. De facto, pouquíssimos estudos foram feitos com as sementes de chia em humanos e, do mesmo modo que existem trabalhos que não apresentam nenhum efeito destas sementes no peso corporal e outros indicadores de saúde, outros há que evidenciam melhorias no controlo glicémico a seguir às refeições, aumento dos níveis plasmáticos de alguns ómega 3 (sobretudo quando moída) e diminuição dos triglicerídeos e de alguns marcadores inflamatórios.
Em resumo, a ciência ainda não foi peremptória quanto ao papel das sementes de chia na perda de peso e outros efeitos na saúde, mas o seu teor de fibra, proteína, cálcio e ómega 3 ninguém lhe tira. Por isso, é outros dos “novos” alimentos que nada se perde em experimentar.
Pedro Carvalho, nutricionista (pedrocarvalho@fcna.up.pt)
in Lifestyle Público
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