sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

No ouro sem fim da tarde morta

No ouro sem fim da tarde morta,
Na poeira de ouro sem lugar
Da tarde que me passa à porta
Para não parar,

No silêncio dourado ainda
Dos arvoredos verde fim,
Recordo. Eras antiga e linda
E estás em mim...

Tua memória há sem que houvesses,
Teu gesto, sem que fosses alguém,
Como uma brisa me estremeces
E eu choro um bem...

Perdi-te. Não te tive. A hora
É suave para a minha dor.
Deixa meu ser que rememora
Sentir o amor,

Ainda que amar seja um receio,
Uma lembrança falsa e vã,
E a noite deste vago anseio
Não tenha manhã.

Fernando Pessoa

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