A Manifestação de Professores
"Hoje para os professores será o dia do Zénite. Hoje olhando-se uns aos outros, vendo as filas e filas de gente vindas de Vila Real de Santo António a Monção e Bragança, os professores sentirão aquela sensação de alegria que percorre os participantes duma manifestação bem sucedida. Sentirão força, alegria, trocarão entre si sinais de reconhecimento e identidade, beijos, abraços, palmadas nas costas, polegares no ar, colocarão uns aos outros autocolantes. As pessoas ficam "físicas" nas manifestações, de braço dado. Os mais treinados nestas coisas, que conhecem bem as "manifs", estarão mais calmos do que os novatos. Os novatos vão falar muito, gritar mais alto, sentir a "psicologia das multidões", uma novidade para eles. Será um dia em cheio para os professores, reconfortante e, quando nas suas camionetas regressarem a casa, cansados e com pena de não haver mais, pensarão na lição que deram à ministra e ao governo. Mas, com eles, viajará o Nadir.
Segunda feira voltarão às escolas, às aulas. Se a ministra não for demitida, ou se demitir, começa a ressaca do sucesso, vai parecer pouco o que com tanto esforço foi conseguido. Se os professores estivessem dispostos a entrar em greve, a "rua" poderia ter tido um papel de uma etapa de luta para outra. Mas duvido que os professores tenham a unidade, a força, a disposição, a resistência psicológica e financeira que são necessárias para uma greve que só seria eficaz se fosse prolongada, sem fim à vista, dura e intransigente. Mas todos sabem que uma coisa é ir a uma manifestação neste momento, outra fazer greve. E por isso a sensação de vitória vai-se azedar pouco a pouco, dar origem a mais do mesmo que hoje assalta muitos portugueses: uma sensação de impotência, de que não vale a pena fazer nada, de derrotismo e ou apatia ou agressividade.
Escrevo hoje no Público sobre a "rua" e termino dizendo que quando se vai para a "rua" tem que se saber como se sai dela. Em democracia, quando se vai para a "rua", local nobre e legítimo do protesto, tem que se saber que não se pode continuar nela sob pena de então as coisas estarem muito mal para a democracia. Duvido que nesta luta dos professores exista um plano B. O plano A resultou, está à vista hoje. Podia haver um plano B para 2009, no voto, mas duvido que quando lá se chegar exista uma alternativa no domínio político para o materializar. Por isso temo que disto tudo resulte pouco mais do que desespero apático, ou asneira agressiva. Vamos ver."
José Pacheco Pareira (08.03.2008)
In Blogue Abrupto
Sem comentários:
Enviar um comentário