«O abandono de um animal é um acto cruel e degradante». É o que diz o artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos do Animal. E com as férias à porta, o número de animais abandonados sobe exponencialmente, apesar de ser uma realidade silenciosa durante o ano. As diferentes associações de defesa dos animais registam os casos observados ao longo do tempo e concluem que apesar de todas as campanhas já realizadas, dos apelos sem conta, o número de cães abandonados está a aumentar. O ano passado foi considerado o pior ano em números de animais abandonados, mas este promete ultrapassar o anterior. Apesar da nova legislação obrigar a aplicação de um dispositivo electrónico de identificação em todos os cães nascidos a partir do dia 1 de Julho último, não se espera que este tenha reflexo no número de animais abandonados ainda este ano. A tendência de subida começou a esboçar-se em 2006 e não parou mais. Todos os canis estão cheios de animais abandonados, não havendo espaço para mais nenhum. Esta sobrelotação a nível nacional foi atingida desde Maio e que permanece, ou seja, o cão está a tornar-se num bem descartável e não só em Agosto, mas em todos os meses do ano, deixando o abandono de ser um fenómeno sazonal — os cães continuam a ser mais abandonados no Verão, mas esta situação passou a ser permanente na sociedade portuguesa por estes tempos.
As crescentes dificuldades económicas de muitas famílias portuguesas poderão explicar, em parte, este pico de abandonos. Há pessoas a trocarem as vivendas por apartamentos, a irem à procura de trabalho para o estrangeiro — em geral, vive-se com menos dinheiro. O abandono é um sintoma de crise, mas não apenas económica. Talvez uma crise de valores de um modo geral.
Na ausência de estatísticas oficiais, as associações têm os seus próprios indicadores. Entre os que abandonam, existem os "conscienciosos", ou que o tentam ser. São os que telefonam primeiro para os canis a pedir para receberem os cães. As desculpas são comuns — Vão desde alergias às ausências para o estrangeiro. Quem entrega os animais quase nunca diz que ele é seu. Dizem que encontraram o animal na rua ou que era de um amigo.
Outras chamadas são mais directas e afirmam peremptoriamente que vão de férias muito em breve e que não podem ficar com o cão! Alguns abandonam os animais no portão dos canis; outros são atirados por cima da vedação, mesmo que tenha dois metros de altura. E acreditem que há quem abandone os seus antigos amigos em plena auto-estrada, ou nalguma via rápida com a eminente probabilidade de atropelamento e causa de acidentes graves.
O número crescente de cães de raça pura entre aqueles que são deitados para a rua é uma das novidades desta nova vaga. O sangue azul já não os salva. Talvez porque a manutenção destes animais é habitualmente mais dispendiosa do que a de um rafeiro. É uma explicação, mas há outras. As notícias sobre as raças perigosas têm tido efeitos dramáticos, como já se previa; entre os abandonados com pedigree, avultam os pitbull e os rottweiler. Por outro lado, os cães são também, para certas pessoas, um fenómeno de moda — quando esta passa, troca-se de animal. Aconteceu, por exemplo, com os dálmatas.
Segundo as associações de defesa dos animais, a sucessão vertiginosa de abandonos ameaça rebentar com a reduzida estrutura de apoio existente no país, a maior parte a cargo de associações que vivem sobretudo de algumas poucas doações e do trabalho de um reduzido número de voluntários.
Um cão que entra num canil municipal, recolhido na rua, tem uma esperança de vida de sete dias. É o tempo legal para ser reclamado. Findo este prazo, é abatido. O principal trabalho de muitas associações de defesa dos animais é o de tentar evitar que este destino se cumpra, sobretudo, por via de campanhas de adopção. E os números são sempre impressionantes. Uma só associação já salvou cerca de mil cães em 3 anos. Alguns canis municipais tentam protelar o abate, mas como as instalações estão agora permanentemente cheias, aceleram o processo cumprindo o prazo legal de 7 dias. Isto reflecte as duas faces da mesma moeda: por um lado aumentam os abandonos e por outro, as adopções também estão em queda livre.
Quando se adquire um animal de estimação é preciso pensar bem. É uma acção que, para além de exigir uma dedicação «para a vida», implica muitas despesas.
Com o sol à porta, as responsabilidades e as preocupações são postas de lado e o que interessa é descansar, trabalhar para o bronze e sair com os amigos. Mas há responsabilidades que não podem ser ignoradas e os animais de estimação são uma delas.
Calcula-se que existem 12 mil animais abandonados em Portugal."
In blogue VetCondeixa
2 comentários:
Só pessoas sem coração abandonam o seu animal de estimação... só de pensar nisso me arrepia.
Concordo plenamente contigo, Moura.
Esperemos que, pouco a pouca, a situação se vá invertendo e haja mais respeito pelos animais.
Bom final de semana.
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