quinta-feira, 11 de junho de 2009

Letras

Um dia destes temos de nos separar, e é natural que seja eu, que sou mais velho, o primeiro a partir... Antes porém, quero dizer-te que te devo o melhor da vida. Foste tu que me desvendaste o amor, que eu desconhecia. A bondade e a ternura, que eu desconhecia. Não exerci talvez nenhuma influência na tua alma – tu apaziguaste-me. O amor era em mim um simples impulso: criaste-o, e pouco a pouco essa força nas tuas mãos se transformou em sentimento religioso.
Olha para os meus cabelos todos brancos... Julgava que o amor ia diminuindo com o tempo – e o meu amor não cessa de aumentar até à morte e para além da morte.

Raul Brandão (1867-1930)

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