Os corvos de Lisboa estão a desaparecer
"Símbolo da cidade de Lisboa, o corvo tem vindo aos poucos a desaparecer das áreas urbanizadas. Portugal é mesmo um dos poucos países onde as populações desta ave inteligente estão a diminuir. E nada está a ser feito para as proteger.
Sabia que os corvos que se alimentam de sementes difíceis de partir as atiram para o meio de uma estrada e esperam que os carros as esmaguem para então as comerem? Ou que algumas espécies são capazes de fabricar e utilizar pequenos instrumentos para alcançarem uma refeição desejada?
Apesar das surpreendentes provas de inteligência, o corvo, um dos símbolos da cidade de Lisboa é cada vez mais raro de observar nos céus da capital. O uso de venenos e pesticidas e o abate ilegal são as razões para a diminuição do número de exemplares. Portugal é mesmo um dos poucos países da Europa onde a espécie continua a regredir, de acordo com um estudo da Birdlife International.
Não está em vias de extinção, é verdade. Mas aparece no Livro Vermelho dos Vertebrados como 'Quase Ameaçada', não se sabendo ao certo o número de casais existentes em Portugal. Estima-se que sejam menos de dez mil indivíduos.
"O corvo é uma espécie muito importante, mas não é das mais ameaçadas e, por isso, com os escassos recursos afectos à área do ambiente e conservação, não tem sido uma prioridade", diz Gonçalo Elias, que faz observação de aves há mais de 20 anos e que, no ano passado, lançou um portal na Internet, - Avesdeportugal.info - com informação sobre mais de 400 aves.
Em Portugal, o corvo, embora cada vez mais raro, pode ser visto em diversas zonas, com excepção daquelas mais densamente povoadas. Em Lisboa, por exemplo, "só encontramos corvos no cabo Espichel e no Algarve o mais comum é vê-los no cabo de S. Vicente". No Interior têm uma distribuição mais contínua.
Fazendo jus à sua faceta mais oportunista, o corvo adapta-se com facilidade a vários habitats. Tanto pode ser encontrado em zonas quentes do Mediterrâneo, como nos climas frios do Norte da Europa.
"Uma das razões que leva a maior parte das aves a migrar é a falta de alimento durante o Inverno. Os corvídeos, de modo geral, não migram; alimentam-se daquilo que encontram, vão variando de dieta ao longo do ano", explica Gonçalo Elias.
Os corvos são principalmente necrófago, embora se alimentem também de pequenas aves e mamíferos, numa dieta que inclui ainda ovos, caracóis e cereais. Devido aos seus hábitos alimentares e ao negro brilhante das suas penas, são vistos, na mitologia, como portadores de maus presságios, surgindo muitas vezes associados a bruxas e feiticeiras. E à morte.
Algumas lendas contam que quando uma pessoa morre, um corvo carrega sua alma até o paraíso. Por isso, dois corvos figuram nas armas de Lisboa, pousados numa caravela, um à proa e outro à popa, vigiando o corpo de S. Vicente, o padroeiro da cidade, durante a viagem dos ossos do santo desde Sagres até Lisboa.
Aliás, não há muitos anos, era comum ver corvos nas tabernas dos bairros típicos da capital, passeando impávidos pelos passeios ou imitando as vozes dos clientes mais habituais.
Hoje, temido e mal-amado por muitos, o corvo é muitas vezes morto pelos caçadores e agricultores sem qualquer razão ou por simples prazer. "Os agricultores, confundem corvos com gralhas, e em muitos casos, por não simpatizarem muito com estas aves, acabam por abatê-los, mesmo sendo uma espécie protegida", salienta Gonçalo Elias. Por outro lado, a utilização intensiva de pesticidas na agricultura acaba por ser responsável pela morte de muitas aves, que absorvem os venenos através dos animais de que se alimentam.
"Os corvos, tal como outros aves necrófagas, têm um papel muito importante no equilíbrio ambiental", lembram os biólogos. Mas os poucos estudos feitos sobre a ave mostram que, em Portugal, pouco ou nada está a ser feito para proteger a espécie e evitar que os corvos se juntem à lista negra das aves em extinção.
Devíamos seguir o exemplo da Inglaterra, onde a ave é protegida pela própria rainha. Sempre que um dos famosos corvos da Torre de Londres morre ou desaparece é obrigação da Guarda Real proceder à sua substituição imediata. Tudo para que não se realize a profecia: Londres desaparecerá quando, na Torre, morrer o último corvo.
Muitas subespécies poucas diferenças
Na Península Ibérica habita o Corvus corax hispanus, uma subespécie que se distingue do mais comum Corvus corax corax pelo tamanho, uma vez que "os animais do Norte da Europa tendem a ser um pouco mais robustos para melhor lidar com as condições adversas", explica Gonçalo Elias. Mas a verdade é que entre as diversas subespécies - e em todo o mundo existem mais de 40 - as diferenças não são geralmente muito claras, nem mesmo em termos de plumagem já que visualmente são todos pretos. "Estão relacionadas com pormenores como o tamanho das patas ou das asas e outros detalhes morfológicos apenas distinguíveis com as aves na mão." Os corvos vivem em bandos com estrutura hierárquica bem definida e formam, geralmente, casais monogâmicos. A sua alimentação é omnívora e inclui pequenos invertebrados, sementes e frutos; podem ser também necrófagos. O corvo é o maior de todos os corvídeos, chegando quase aos 70 cm de comprimento. Tem um bico forte e curto, e uma "barba" hirsuta, que o distingue da gralha, também um pouco mais pequena."
In site DN Ciência
3 comentários:
Muito boa tarde,Maria Lua
Começo pelos corvos,que têm,também,direito a serem lembrados,voltando,depois,ao Napoleão,no post anterior.
Há muitos anos,em interior profundo,quase apanhei uma bicada valente de um deles. Ia eu subindo uma encosta,quando ,por detrás de uma azinheira,surge,em voo picado,o dito corvo. Ele vinha cheio de razões para se vingar do que andavam a fazer à sua família. Viam-se,aqui,e ali,presos a ramos,corpos de corvos sem cabeças.As cabeças eram levadas a quem de direito,e ,em troca,recebiam já me não lembro o quê.É que os corvos faziam por ali muitas "maldades" em ninhos deste e daquele,coelhos,perdizes,coisas assim. Quanto a terras lá da velha Albion,também há muitos anos,vi eu numa feira em interior mais ou menos profundo, um aviso indicando que os corvos não eram,ali,
igualmente,bem vistos,por razões
similares.
E pronto,pobres dos corvos que os não deixavam sossegados lá nas suas vidas.
Vou-me passar para o Napoleão.
Até já.
Esterilização Obrigatória,
enquanto, em Portugal, não existir uma verdadeira e justa legislação para proteger os animais, também concordo e aconselho a esterilização dos mesmos como sendo a única solução contra o sofrimento dos abandonos e maus-tratos nos animais.
Obrigado.
Boa tarde MSG,
também sempre lembro dos corvos associados a artes mágicas/negras/morte, mas temos/devemos mudar essas ideias pré-concebidas antes que seja tarde demais!
Era uma forma de defesa, também o fazem quando se sentem ameaçados...
Obrigado pela visita!
:-)
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