As crianças não se medem aos palmos
"A sociedade valoriza os mais altos, mas a ansiedade dos pais face a filhos mais baixos raramente se justifica. Guarde a fita métrica e relaxe.
Ouvir um elogio impressionado sobre a altura de um filho enche qualquer pai de orgulho. O pior é quando as observações referem o inverso. Logo os pais se enchem de dúvidas e correm ao médico para ver se o filho está bem de saúde, queixando-se que os filhos dos amigos têm a mesma idade e são bem mais altos.
"O meu filho é mais alto que o teu"
A comparação de alturas serviu sempre de pretexto para aferir a superioridade da prole. Filhos altos eram sinónimo de futuros jovens bem sucedidos, líderes da nação e candidatos a quebra-corações. Aliás, um estudo anglo-polaco veio deitar mais achas para a fogueira. Segunda a pesquisa de cientistas daqueles dois países, os homens mais altos não só têm mais namoradas, como casam mais e têm mais filhos.
Para piorar a angústia dos pais de filhos pequenos, a altura média dos portugueses tem vindo a aumentar significativamente. De acordo com um estudo da antropóloga Cristina Padez, da Universidade de Coimbra, nos últimos cem anos crescemos cerca de nove centímetros, mais ou menos um centímetro por década - ou seja, os miúdos estão cada vez mais altos o que faz com que os baixinhos ainda sejam mais olhados de lado, ou neste caso, de cima.
Na verdade, a altura das crianças é determinada por uma série de factores, não só genéticos mas também ambientais, como a alimentação e cuidados de saúde. No que respeita aos genéticos, por exemplo, não é só a altura dos pais que vai determinar o tamanho dos filhos, pelo menos quatro ou cinco gerações passadas terão influência. Mas além disto, é preciso não esquecer que os ritmos de crescimento de cada criança podem variar muito, isto é, um miúdo de sete anos pode ser o mais baixo da turma, mas aos 14 anos pode dar um salto e apanhar os colegas, ficando inclusivamente mais alto do que eles.
As diferentes etapas do crescimento
Em termos gerais, os dois primeiros anos de vida são aqueles em que a criança mais cresce. No primeiro ano eles aumentam à volta de 24 ou 25cm, no segundo 12 a 13cm, dos três anos até à puberdade, entre 4 a 7cm por ano, e a partir da puberdade mais 5 a 10cm. Os rapazes e as raparigas também não crescem a par. Como é sabido, elas crescem mais na infância e puberdade. A primeira menstruação sinaliza o fim do crescimento e a partir daí elas crescem muito lentamente durante apenas mais dois anos. Os rapazes, pelo contrário, entram na puberdade mais tarde e é nessa fase que crescem mais, chegando a ser 13 centímetros maiores do que elas. Claro que todos estes valores são meramente indicativos. Uma pequena variação para baixo ou para cima não representa um problema se a criança for saudável, dormir e comer bem, praticar desporto e não tiver doenças crónicas, como asma, diabetes, problemas de absorção dos alimentos ou outros que impeçam o crescimento normal.
Quando há razões para se preocupar
Nalguns casos, no entanto, o atraso no crescimento pode indicar a falta da chamada hormona do crescimento. Se o seu filho crescer menos de quatro centímetros por ano num período de três anos, o caso merece alguma atenção. Se for caso disso, o médico pode recomendar a administração da hormona de crescimento, mas a opção por este tratamento deve ser bem ponderada já que entre os efeitos secundários podem estar tumores e diabetes. Alguns casos em que está indicada a hormona do crescimento são:
- O nanismo hipofisário: uma deficiência congénita da hormona do crescimento;
- A síndroma de Turner: doença congénita do sexo feminino com origem numa deficiência nos cromossomas;
- A insuficiência renal crónica: apesar de haver níveis normais de hormonas de crescimento, a insuficiente ingestão de calorias e a anemia podem atrasar o crescimento destas crianças.
Os mais baixos da Europa
Apesar de termos crescido 9 centímetros nos últimos cem anos, continuamos a ser os mais pequenos da União Europeia, com uma altura média de 1,72cm. Para termo de comparação, os nossos vizinhos espanhóis medem em média 1,74cm e os holandeses, 1,84cm.
- A altura das crianças é determinada por uma série de factores, não só genéticos mas também ambientais, como a alimentação e cuidados de saúde."
Bárbara Bettencourt/Activa - 14 Agosto 2009
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