O génio feminino reside na sua capacidade de despertar os homens para si próprios, segundo Maryse Vaillant, psicóloga, autora de Comment aiment les femmes: Du Désir et des Hommes*. Uma revelação?
"As mulheres amam hoje de uma forma diferente?
Acho que são diferentes da imagem que se tem delas e que amam os homens na sua vida de uma forma mais matizada, complexa, sólida e construtiva do que se diz. Quis saber se, no seu modo de amar os homens, as mulheres perpetuam a velha tradição feminina de submissão e adoração do macho. E descobri, para minha surpresa, que ainda não se libertaram realmente dela. Encontrei mulheres sofisticadas e licenciadas que mimam os maridos, utilizam a coqueteria e escondem a sua inteligência. Para mim, isto é um enigma e recorri a Freud para tentar compreender. As suas análises continuam a ser muito pertinentes para interrogarmos as nossas paixões, as nossas pequenas e grandes fraquezas.
As mulheres são hoje mais autónomas que no tempo de Freud. Ao ler o seu livro, porém, fica-se com a sensação de que elas continuam a ter medo de ser abandonadas.
É verdade. Porque é que continuamos a ter necessidade do amor de um homem para nos sentirmos mulheres? Precisamos, em primeiro lugar, do amor de mãe para sermos capazes de amar, mas também de pensar e de nos abrirmos ao mundo. Este é o amor de base. Mas é a passagem pela casa “papá”, o olhar do pai, o conflito edipiano que dá à menina acesso às armas da feminilidade e aos instrumentos de sedução. A partir daí, o reconhecimento parece passar sempre pelos homens. É essa, sem dúvida, a origem do grande medo de ser abandonada, como se a mulher perdesse o seu estatuto de objecto de desejo para integrar o universo das mulheres marcadas e vulgares, como se, ao partir, o homem apagasse a luz e deixasse a mulher no escuro.
Mas não pensa que isso seja verdade, do ponto de vista social? Que mais vale ser solteira do que ter sido abandonada?
O estatuto de mulher abandonada continua a ser um velho modelo contrastante: “Seduzida e abandonada.” Mesmo quando são capazes de prover às suas necessidades, mesmo quando são fortes e sedutoras, a maioria das mulheres sentem-se, lá no fundo, desvalorizadas se forem deixadas, ainda que por um homem medíocre. É espantoso…
O que mudou então no amor das mulheres pelos homens?
Antes, o amor funcionava com base no modelo de protecção. As raparigas procuravam um marido forte, mais maduro que elas, que lhes desse dinheiro, notoriedade e conforto material, um homem que as protegia e fazia delas mães, acantonando-as em seguida no seu espaço doméstico. Acontece que este modelo antigo continua a ser muito forte, o que não deixa de ser intrigante. Ao mesmo tempo, o amor tornou-se mais narcisista. A sociedade estende às mulheres o espelho da sedução para encontrarem a sua identidade. Continua a propor-lhes que sejam belas, jovens e suficientemente inteligentes para se calarem. Muitos jovens casais nascem de um amor narcisista: cada um procura-se no olhar do outro, cada um vê no outro um alter ego. É uma forma de amor muito estimulante e apaixonada, mas estes casais fracassam frequentemente porque, passado muito pouco tempo, a mulher acha que se sacrificou e não teve espaço para ser ela própria. Apesar de tudo, penso que o génio das mulheres continua a consistir no que o seu amor dá aos homens.
“Fazer despertar os homens para si próprios”: na sua opinião, é aí que reside o verdadeiro amor das mulheres?
Sim. Sempre se disse que um homem se “fazia” identificando-se com o pai e se construía depois na competição e no confronto com os seus pares. É verdade, mas não basta. Muitas vezes, são as mulheres que “fazem” um homem. E, paradoxalmente, não são as mães. A mãe faz do filho um filho, não um homem. Ele só se torna realmente um adulto responsável, leal, fiel e corajoso por intermédio dos seus encontros com outras mulheres. O génio feminino reside inteiramente nessa capacidade maiêutica de fazer despertar o homem para si próprio. Basta não nos vermos como um objecto, mas como uma pessoa, e tratarmos o homem que amamos da mesma maneira. Com uma mulher assim, o homem fica. Ela faz tudo para que a sua relação seja viva e inteligente, através da palavra e da partilha. Não utiliza subterfúgios para o prender. Uma mulher pode fazer despertar para si próprio um homem mais velho do que ela, ou mais novo.
Precisamente: parece emergir do seu livro um novo modelo, o das mulheres que amam, de forma aberta e livre, um homem mais novo do que elas…
Muitos foram os homens iniciados no amor por mulheres mais velhas, mas essas histórias permaneceram, as mais das vezes, secretas. O que pode ser novo e interessante é que hoje há mulheres que não se escondem e que se permitem viver, se o desejarem, uma relação, uma aventura ou uma verdadeira união fora dos caminhos batidos da mulher frágil e financeiramente dependente, sem com isso procurar ostentar o seu jovem amante. São mulheres livres, fortes – na maior parte dos casos, maduras. São mulheres que criaram filhos em esquemas familiares clássicos, que sofreram e tomaram consciência de que são capazes de pensar e reflectir. Estão dispostas a afrontar os olhares.
No seu livro, fala pouco de sexualidade, mas ela é indissociável do amor…
Sim, mas julgo que a sexualidade e o amor são duas coisas diferentes. Quis mostrar a força das mulheres, o seu poder e a sua energia. Sabe-se, há mais de 30 anos, que elas podem viver plenamente a sua sexualidade, mas parece-me que, entre o que acontece hoje e o que acontecia então, a bandeira está a meia haste. O benefício que as mulheres retiram dela é claramente menor. De resto, a capacidade de ter prazer sexual nem sempre é um sinal de autonomia ou liberdade. A sexualidade é um ingrediente da vida, mas não necessariamente do amor. Quando os dois se juntam, é óptimo, mas podemos amar um homem e ter prazer com outro. Colocar no centro do amor das mulheres o seu poder, a sua fecundidade, a sua capacidade de criar parece-me mais importante e mais inovador que falar da sua capacidade de ter prazer ou de ter relações sexuais."
* Como Amam as Mulheres: Do Desejo e dos Homens (tradução livre), Editions du Soleil.
Psicóloga clínica com um longo envolvimento na protecção judicial de menores, Maryse Vaillant é autora de várias obras sobre questões ligadas à adolescência, ao perdão, à família ou ao casal.
Por Danièle Laufer
In site Máxima
Sem comentários:
Enviar um comentário