Todos os pais aguardam com muita ansiedade o nascimento dos seus filhos e querem preservá-los de todos os perigos. Tal como aconteceu comigo quando soube que estava grávida do meu primeiro filho.
Desde sempre tenho uma paixão por todos os animais, principalmente cães e gatos, partilhando a minha vida com 2 cães (o Juca e a Zita, ambos com quase 10 anos) e uma gata (a Xaninha, recolhida há cerca de 2 anos da rua). Toda a minha família partilha também esta paixão e o Juca, a Zita e a Xaninha são encarados como parte integrante da família e não apenas como animais.
Quando alegremente comuniquei aos futuros avós que a família iria aumentar, todos ficaram muito contentes, mas apercebi-me que de repente se instalou algum nervosismo e depois a questão: e agora os cães e a gata? Com alguma tranquilidade respondi, “Vão ter mais um amigo para brincar!”.
Quando realizei as primeiras análises de rotina fiquei a saber que não estava imune contra a Toxoplasmose, uma doença que pode ser transmitida por contacto com fezes de gatos e logo a preocupação voltou ao seio da família! Rapidamente esclareci todas as dúvidas: a Toxoplasmose é uma doença provocada por um protozoário o Toxoplasma gondii que tem como hospedeiro definitivo o Gato e hospedeiros intermediários todos os animais de sangue quente, basta que contactem com fezes de gato contaminadas.
Toda a minha vida convivi com imensos gatos, inclusive de rua, e durante uma fase da minha vida profissional exerci clínica de animais de companhia onde contactei com centenas de gatos. O que é certo é que nunca entrei em contacto com este protozoário e por isso não estava imune a esta doença.
O que é preciso esclarecer é o modo de contágio desta doença: quando um gato está infectado liberta os protozoários através das fezes e nesta fase apresenta diarreia. Caso algum animal (coelho, pássaros, ratos, Homem, ...) ingira alimentos conspurcados com fezes de gato contaminadas, o protozoário poderá ficar armazenado nos músculos e órgãos, e caso seja uma fêmea gestante, no feto. É esta infecção que poderá provocar malformações congénitas nos bebés. A estes animais chamamos de hospedeiros intermediários. Caso a mulher entre em contacto com o Toxoplasma e não esteja gestante, desenvolve imunidade e se durante a gestação for infectada já tem defesas contra este agente e não haverá nenhum problema para o feto. Quando o gato se alimenta de ratos, pássaros, etc., caso a presa tenha o parasita enquistado nos músculos, órgãos, etc., o parasita atinge a forma adulta e é novamente eliminado pelas fezes.
Uma vez que a minha gata apenas come alimentos especificamente processados para animais e não come carne crua, não tem qualquer hipótese de ficar contaminada e de me transmitir esta doença. Quando expliquei esta história, toda a minha família ficou tranquila e passou a olhar para a Xaninha não como uma ameaça, mas sim como a amiga de sempre!!
Os cuidados que qualquer mulher grávida deve ter para não correr o risco de contrair Toxoplasmose durante a gravidez são: lavar muito bem as frutas e legumes, pois podem estar contaminados com fezes de gato, bem como não comer carne crua. Para evitar qualquer perigo, não deve mexer na casa de banho do gato para evitar qualquer contacto acidental com as fezes.
Para que um animal de companhia não constitua qualquer perigo para os seus donos basta que esteja correctamente vacinado e seja periodicamente desparasitado contra os parasitas internos (lombrigas e ténias) e protegido dos parasitas externos (pulgas, carraças e piolhos). Deverá também ser observado regularmente por um Médico Veterinário, que lhe dará todos os conselhos para que a convivência entre pessoas e animais seja sempre um motivo de prazer e não uma preocupação.
Outro dia muito importante é a chegada do bebé a casa!! É claro que teremos de o apresentar aos nossos “amigos” e é este passo que pode ser determinante para a boa convivência entre ambos.
Muitas pessoas passam a condicionar os movimentos dos animais, não permitindo que cheguem perto do bebé e até mesmo as visitas os passam a ignorar. Este comportamento está completamente errado e o resultado será a associação por parte do animal à presença do bebé a esta exclusão. Ou seja, o animal passará a encarar o bebé como um inimigo e a responsabilizá-lo por tudo o que de novo lhe está a acontecer.
Caso o animal esteja em perfeito estado sanitário não há qualquer problema em permitir um contacto mais próximo. O procedimento correcto é não alterar a rotina do animal e fazer com que ele associe a presença do bebé a algo muito bom. Por exemplo, quando chega alguém para visitar o bebé deverá em primeiro lugar fazer muitas festas ao cão/gato e só depois dirigir-se ao bebé; devemos sempre associar a presença do bebé a algo muito bom para o animal.
Foi exactamente isto que eu fiz e por isso a relação entre o meu filho com o Juca, a Zita e a Xaninha passou a ser de cumplicidade e não de conflito. É realmente agradável observar a sua alegria quando os vê e a rapidez com que gatinha para lhes fazer festas. A Zita é a preferida, pois brinca imenso com ele trazendo-lhe brinquedos e não se incomoda com as suas diabruras.
Gostava também de partilhar convosco o facto de o meu filho ainda não ter adoecido, pelo que nunca lhe foi administrado qualquer medicamento. Eu nunca telefonei para o Médico Pediatra ou fui a uma consulta de urgência. É uma criança com um desenvolvimento perfeitamente normal, muito sociável e que claro, adora todos os cães e gatos que vê, não tendo qualquer medo.
O que é certo é que cada vez mais se estuda o efeito da convivência entre animais e crianças no seu desenvolvimento, e os resultados são muito positivos. De realçar os efeitos benéficos do relacionamento de crianças com Autismo com animais, bem como no caso de crianças com dificuldades de relacionamento. Um cão / gato é também aconselhado para aumentar o sentido de responsabilidade das crianças, pois ao terem de tratar deles assumem tarefas diárias como suas, para além de arranjarem um amigo para a vida!
Ana Mimoso
(Médica Veterinária Purina PetCare)
in Purina PetLife
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