“Nos últimos 11 anos a confiança dos portugueses no sistema político democrático diminuiu”. Esta é uma das principais conclusões do «Barómetro da Qualidade da Democracia», do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que será apresentado amanhã.
Em conversa com o «Ciência Hoje», António Costa Pinto, um dos coordenadores do estudo (juntamente com Pedro Magalhães e Luís de Sousa) explica que há várias razões para estes resultados.
Assumiu-se que a democracia deve trabalhar para a “distribuição de bens e para garantir os direitos e as liberdades civis”. Quanto á primeira, “a confiança tem diminuído principalmente devido à crise económica. E tenderá a agravar-se nos próximos anos”.
Quase 48 por cento dos inquiridos acreditam que a democracia “funciona pior ou muito pior do que há cinco anos”, enquanto 70,4 por cento considera que a sua qualidade de vida global foi significativamente afectada pela crise económica.
Existe também uma desconfiança em relação à elite política. “A percepção que os portugueses têm é que os políticos tratam mais dos seus interesses pessoais do que do interesse comum”.
São, assim, cada vez mais os portugueses que consideram ineficaz a luta contra a corrupção por parte do governo. Em 2007 eram 64 por cento, em 2010, a percentagem aumentou para 75.
“Entre as instituições democráticas, aquela que os portugueses consideram mais próximas do interesse da população é a da Presidência da República” (21,7 por cento), merecendo por isso mais confiança. As autarquias vêm em último lugar, com apenas 2,75 por cento de portugueses a considerarem que os autarcas são os agentes que melhor dão voz às suas preocupações.
Este baixo grau de satisfação tem várias interpretações. Se 55,5 por cento dos portugueses - contra 81% em 1999 - consideram que a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo (mínimo histórico de sempre) e 15 por cento está a favor da existência de um governo autoritário, em algumas circunstâncias, pode parecer que está em causa “a viabilidade da democracia enquanto forma de governo em Portugal”, como se diz no relatório.
No entanto, este grau de insatisfação pode ser visto como “um símbolo de activismo e cidadania”, diz António Costa Pinto. Por outro lado, refere o coordenador, aqueles que têm uma condição social mais baixa e que não se identificam com a direita têm sentimentos anti-partidos, o que pode sugerir também “uma certa alienação em relação à coisa pública. E isso é mau”, conclui.
O estudo foi realizado com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e da Fundação Calouste Gulbenkian.
in Ciência Hoje
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