Cada vez mais tartarugas são abandonadas devido ao seu crescimento que pode passar de quatro para 25 centímetros. Este aumento de tamanho 'inesperado' é a razão segundo a qual os donos dizem tomar essa atitude, mas especialistas alertam que estes animais não devem ser deixados na natureza pois ameaçam as espécies nativas.
Quando compram uma tartaruga ou um cágado, as pessoas trazem para casa um animal pequeno. O que acontece é que esse animal de três ou quatro centímetros cresce e deixa de ser possível mantê-lo num aquário, tornando problemática a sua presença num apartamento.
Esta é a explicação que os técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) ouvem de quem vai deixar o seu animal de estimação para que seja procurada uma nova ‘casa’.
“Compram espécies com três ou quatro centímetros de comprimento e esquecem-se que, se lhes derem condições adequadas, o que não é difícil, elas crescem e atingem 20 a 25 centímetros no estado adulto, um tamanho já grande para a maioria das pessoas que vive em apartamentos”, relatou João Loureiro à Lusa.
Segundo o chefe da Unidade de Aplicação das Convenções Internacionais do ICNB, muitas vezes, “a razão politicamente correcta” para o abandono é o bem-estar das tartarugas. Contudo, na verdade, o que “está por detrás” são os “problemas sanitários”.
E explica: “Devido aos seus hábitos anfíbios, parte em água e parte fora, quando é um espaço pequeno levanta problemas sanitários. É preciso lavar frequentemente o espaço onde estão as tartarugas” por causa do cheiro.
Deixados na natureza
O número de tartarugas deixadas em locais adequados aumentou e o ICNB começa a ter problemas para encontrar alternativas nos parques zoológicos com os quais tem protocolos, uma vez que começam a ficar lotados.
Algumas vezes, os donos das tartarugas deixam-nas em lagos, na cidade, outras vezes libertam-nas na natureza. No entanto, alertam os especialistas, as tartarugas ou cágados comprados nas lojas de animais, que são oriundos de outros países, não devem ser deixados na natureza pois ameaçam a sobrevivência dos animais autóctones.
“Nos sítios onde existem estes cágados invasores, as densidades dos cágados autóctones diminuem”, disse à agência Lusa o coordenador de uma iniciativa que estuda estes animais. “São espécies que não têm predadores naturais nestes sítios e têm impacto grave no meio”, acrescentou.
Quem tem cágados ou tartarugas em casa e pretende abandoná-los deve saber da existência de uma rede de locais que os recolhe, como os serviços do ICNB ou centros como o parque biológico de Gaia e o RIA, em Olhão.
“Mais do que uma responsabilidade, é uma obrigação legal. As pessoas podem ser punidas por lei por libertarem animais exóticos em locais naturais”, afirma o investigador.
Em Portugal existem duas espécies autóctones, o cágado mediterrânico e o cágado de carapaça estriada, em perigo extinção.
in Ciência Hoje
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