Sondagem mostra que os católicos são, de entre todos crentes, os mais preocupados, os que menos se divertem e os que menos praticam
É a maior sondagem sobre religiões feita em Portugal nos últimos anos. O estudo “Identidades religiosas: representações, valores e práticas”, encomendado no ano passado pela Igreja à Universidade Católica (UC), foi ontem apresentado em Fátima, durante a assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
Mas os resultados do inquérito – a que responderam quase quatro mil portugueses – estão longe de ser favoráveis à Igreja e aos próprios fiéis. As conclusões mostram, por exemplo, que os católicos são, de entre todas as religiões, os mais preocupados em relação ao futuro do país: mais de 68% disseram sentir “preocupação e inquietação” face à actual conjuntura nacional. No caso dos protestantes e dos evangélicos, a percentagem de “inquietação” desce para os 38,6%. Respondendo à mesma pergunta, quase 20% das testemunhas de Jeová disseram ser “indiferentes” à situação do país. “Atitude porventura decorrente da visão apocalíptica que descreve o seu universo crente”, sublinha o coordenador do inquérito, Alfredo Teixeira, do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UC.
Além de pessimistas, os católicos parecem ser também o grupo que menos se diverte aos fins-de-semana. A maioria dos membros da Igreja Católica passa os tempos livres “em casa, a descansar” (41,6%) ou então a arrumar a habitação (24,6%). Neste ponto, não acreditar em Deus parece trazer vantagens: a maior parte dos não-crentes, mostra a sondagem, também prefere ficar em casa a descansar durante as folgas, mas 35,9% dizem aproveitar para dar passeios e 11,9% vão a bares e discotecas (locais frequentados por apenas 2,2% dos membros da Igreja Católica).
Os católicos são, por outro lado, o grupo que menos trabalha fora dos dias úteis. Só 18,8% disseram ter passado o fim-de-semana anterior ao inquérito a trabalhar, enquanto que mais de metade das pessoas sem religião o tinha feito, à semelhança de 25% das testemunhas de Jeová.
Quase metade não pratica
E também não se pense que os católicos passam os domingos enfiados na igreja: 12,2% assumem que só vão à missa “raramente ou menos de uma vez por ano” e 8% chegaram mesmo a confessar que nunca vão. Apenas 23% garantiram frequentar a igreja todos os domingos e dias santos. O estudo conclui que 25% dos fiéis portugueses são apenas “católicos ocasionais”. Os números vão mais longe no que toca à prática do catolicismo, com 43,9% dos católicos a assumirem que não são praticantes. Aliás, de todas as religiões, a Igreja Católica é a que menos fiéis praticantes tem: mais de 84% dos protestantes e evangélicos dizem-se praticantes, bem como 75% das testemunhas de Jeová. Sobre as razões pelas quais os católicos são praticantes, a educação e a tradição familiar lideraram as respostas. Quanto às razões para não praticarem, os católicos invocam a falta de tempo (24,9%) e o entendimento “de que é possível ter fé sem prática religiosa” (23,5%). Mas mais de 16% confessaram que não praticam mesmo por “desleixo ou descuido”.
Pronúncia do Norte
Os resultados globais da sondagem mostram que a Igreja Católica perdeu fiéis, ao contrário de todas as outras religiões. Em 1999, 97% da população dizia-se católica. O número desceu agora para os 93,3%. Os protestantes e os evangélicos cresceram 2,3%, as testemunhas de Jeová 0,5% e os outros cristãos aumentaram 0,1%, enquanto que as religiões não-cristãs subiram 0,6%. O grupo que mais aumentou foi o de não-crentes: um total de 6%. De resto, 10,7% das pessoas contactadas na sondagem confessaram que eram católicas, mas que se converteram, num determinado momento, a outra religião. Outra das conclusões mostra que, à medida que os anos vão passando, os católicos vão-se distanciando da prática da religião: 87,9% dizem que foram baptizados e 72,6% fizeram a primeira comunhão, mas só 47,5% chegaram a completar o crisma. O estudo mostra também que a maioria dos católicos são mulheres (56,4%), vivem no Norte (43,6%) e no Centro (20%) do país e principalmente em zonas rurais (44,1%). Já a maioria dos não crentes são homens (71,1%) e mais de metade vivem em zonas urbanas. Cerca de 18% dizem não acreditar em nada por “convicção pessoal” e 17,7% afirmam não concordar com a doutrina de “nenhuma igreja ou religião”.
O porta-voz da CEP desvalorizou ontem a perda de católicos. Manuel Morujão garante que o essencial é a “qualidade” dos fiéis e considera que os números são um “desafio” para a Igreja. “Quem é católico é porque quer e não por pressões familiares e sociopolíticas”, rematou.
Por Rosa Ramos, in I online
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