O nome mirtilo não nos soa muito familiar, não é verdade? De facto, os mirtilos são das bagas que nos parecem mais estranhas, até porque as framboesas e amoras sempre ocuparam o topo da notoriedade deste tipo de frutos. Mas em boa verdade, o mirtilo bem pode ser considerado o embaixador daquilo a que podemos chamar de “nova agricultura portuguesa”. A frutuosa experiência feita por holandeses há não mais de 20 anos, em Sever do Vouga e Trancoso, fez com que hoje existam mais de 40 hectares de cultivo entre estas zonas e o Alentejo.
Existem outros pontos do globo porém, que já tratam o mirtilo por tu há bastante tempo. Os nativos americanos de tanta crença que depositavam no potencial medicinal deste fruto, adicionavam-no a tudo, desde sopas a guisados, passando pela conservação da carne. Também a força aérea britânica durante a Segunda Guerra Mundial utilizava o mirtilo juntamente com a cenoura como suplemento para melhorar a visão nocturna dos seus soldados. Esta assunção empírica, longe ainda de estar associada ao “conceito” de antioxidantes, revelou-se mais tarde totalmente acertada uma vez que os mirtilos, impregnados das antocianinas que lhes conferem a tonalidade azulada, estão entre os alimentos com maior capacidade antioxidante. Consequentemente têm um papel fulcral na preservação de tecidos com grande susceptibilidade ao stress oxidativo como é o caso da retina.
Estes pequenos frutos, para além de uma avalanche de flavonóides e taninos, são igualmente excelentes fontes de fibra, vitamina C e K o que, associado ao seu título de “rei dos antioxidantes”, lhe confere um tremendo potencial anti-envelhecimento.
O papel do mirtilo como elixir da juventude não se esgota no “corpo”, alastrando-se também à “cabeça”! Quer na manutenção da função motora e cognitiva ao longo do envelhecimento, quer na diminuição dos danos cerebrais em pacientes vítimas de AVC, o mirtilo consegue ser um autêntico “bombeiro cerebral” ao atenuar todos os processos oxidativos lá existentes.
Assim, o mirtilo, pela sua tenra implementação lusitana, ainda não faz parte da nossa identidade gastronómica, mas um dia fará. É só ajudarmos a escrever a história e aproveitarmos o que ele tem de melhor.
Pedro Carvalho, nutricionista (pedrocarvalho@fcna.up.pt)
in Lifestyle Público
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