O pimento é sem sombra de dúvida um “legume” com personalidade. A sua intensidade sensorial suscita paixões e repulsas e faz-se sentir mesmo em pequenas quantidades.
Historicamente, o pimento parece estar intimamente ligado à calorosa personalidade dos povos que dele usufruíam, pois foi a “fogosa” irmandade ibérica que o foi resgatar à América do Sul há já alguns séculos. Mas este paralelismo não se fica por aqui. Tal como nós, os pimentos ao longo da sua maturação vão ganhando umas coisas e perdendo outras.
O mais interessante é que nesta passagem da fase verde da vida para todas as outras cores que pode assumir, os pimentos perdem alguma da sua explosividade com a diminuição do teor de capsaicina (cujas propriedades explicamos abaixo), contrabalançando com o aumento das suas defesas devido à crescente quantidade de carotenos que vão adquirindo. Tomara todos os alimentos possuírem este tipo de “problemas”, que ficam desde logo resolvidos a partir do momento em que nos tornamos artistas e desenhamos um semáforo de pimentos no nosso prato!
E o pimento é de facto um excelente regulador do trânsito intestinal. No entanto, no que toca à sua digestibilidade, o “semáforo verde” pode por vezes ser enganador e levantar algumas indisposições a pessoas menos tolerantes à sua vivacidade.
Se do ponto de vista sensorial o pimento nos ganha ocasionalmente algumas lutas e nos deixa fortemente ruborizados e a beber uns valentes copos de água, também na perspectiva metabólica nos “põe a mexer”. A já referida capsaicina é assim capaz de estimular a produção de hormonas como a adrenalina e, desse modo, aumentar o nosso metabolismo e por consequência as calorias que despendemos.
Para além destes efeitos, parece existir uma capacidade extra deste composto na diminuição da nossa ingestão energética, no aumento de oxidação de gordura e na diminuição dos níveis de colesterol e triglicerídeos. Esta catadupa de benefícios pode por vezes esbarrar no seu consumo excessivo, quer do ponto de vista da quantidade quer da intensidade, existindo uma ténue ligação entre o mais potente chili e o cancro do estômago.
Ainda assim, tendo em conta o nosso historial gastronómico, este não se constitui de todo como um problema, até porque, aproximando-se o Verão, os pimentos convivem paredes-meias com sardinha assada, saladas e outras preparações por norma saudáveis que não menosprezam o seu tremendo potencial antioxidante - uma vez que aos seus carotenos se junta uma quantidade de vitamina C só superada pela da salsa, couve-galega e couve-de-bruxelas (sim, o pimento também tem mais vitamina C do que a laranja).
O pimento tem assim a capacidade de dar corpo e alma a pratos com pouca chama sem ser necessário recorrer às “batotas” do sal e da gordura. O seu sabor nunca gerará consensos. Já os seus benefícios nunca deixarão dúvidas…
Pedro Carvalho, nutricionista (pedrocarvalho@fcna.up.pt)
in Lifestyle Público
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