A cebola tem um papel quase omnipresente na nossa cozinha. É difícil imaginar qualquer confecção que não tenha nela o seu ponto de partida pois, desde sopas a refogados e em tudo o que daí advém, a cebola é figura central.
Mudando de cenário, a cebola foi um dos primeiros “suplementos” desportivos da história. Não havia atleta grego que entrasse em acção nos Jogos Olímpicos sem beber sumo de cebola ou até esfregá-la no corpo. Foi esta mesma pungência aromática da cebola que fez dela um alimento bastante apreciado pelas populações mais carenciadas, uma vez que se constituía como uma forma barata de dar sabor aos cozinhados.
Não são raros os exemplos de alimentos que apresentam associações curiosas entre a sua anatomia e os seus efeitos na saúde. No caso da cebola, a sua estrutura em camadas transporta-nos para o seu potencial de renovação, o que levou, aliás, os egípcios a contemplarem-na como fonte de vida eterna.
Não dará vida eterna certamente, mas é certo que a cebola tem muitas propriedades passíveis de melhorar a nossa qualidade de vida, sendo que a última delas - e provavelmente a menos conhecida - passa pelo efeito benéfico na densidade mineral óssea em mulheres, quer antes quer após a menopausa.
Um composto organossulfurado da cebola, de nome impronunciável, tem sido assim associado a uma diminuição de mais de 20% do risco de fractura da anca em mulheres. É nestes compostos organossulfurados, tal como na sua generosa quantidade de flavonóides dos quais se destaca a quercetina, que se alicerça o potencial promotor da saúde da cebola, uma vez que não é uma grande fonte de vitaminas e minerais, à excepção da vitamina C.
Assim, a conjugação de todos estes componentes na cebola concentra um grande papel protector para alguns tipos de cancro (particularmente os do sistema digestivo, como o de estômago e de cólon), e doenças cardiovasculares, quer pela diminuição dos níveis de colesterol e triglicerídeos, quer pelas suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Aliás, a versatilidade que a cebola tem na nossa cozinha faz dela uma excelente fonte de antioxidantes, não porque seja particularmente rica nos mesmos, mas sim pelo seu consumo quase omnipresente.
Como acontece com a maioria dos hortícolas, também a cebola vê o seu potencial limitado pelas altas temperaturas a que pode ser sujeita na confecção, pelo que é mais interessante o seu consumo em cru, sem desprezar as camadas mais externas, pois são essas que concentram uma maior quantidade de quercetina. Se a este modo de consumo acrescentarmos igualmente a pouco utilizada cebola vermelha, adicionamos a todas as propriedades apresentadas uma quantidade extra de antocianinas com o consequente incremento dos seus efeitos benéficos.
Assim, não será necessário recorrer ao cliché de que as cebolas são de comer e chorar por mais, para constatar que estas lágrimas diárias são as mais saudáveis que se podem obter.
Pedro Carvalho, nutricionista (pedrocarvalho@fcna.up.pt)
in Lifestyle Público
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