domingo, 20 de janeiro de 2013

As imagens da semana


Não fales. Morre sempre um segredo
quando falas:
o amarelo das maias, do tojo, das acácias,
o amarelo com que é feito o verde.
O funeral é bonito com todas as cores presentes
mas o vermelho nunca mais será o mesmo.
As papoilas abandonam as margens do combóio
onde escrevo este poema.
Emigram talvez,
o que lhes resta?
O frio que entra no corpo encontra cerradas
as portas da alma: «volto já»,
a esperança pendurada onde devia estar;
«já fui» com o amarelo, com as papoilas
neste comboio que repete, como quem anda sobre trilhos:
«Não fales. Deixa vir a mim o amarelo».

Rosa Alice Branco (1950)

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