2013 foi considerado o ano internacional da quinoa pela Food and Agriculture Organization (FAO). No entanto, por cá, a quinoa ainda não é notícia.
A quinoa é, por assim dizer, um “novo rico” no universo dos alimentos, havendo mesmo quem diga que neste momento está para os cereais como o beluga está para o caviar. Uma evolução notável tendo em conta que, não há muitos anos, a quinoa era olhada de soslaio e apenas encarada como “comida” pelos seus pobres produtores dos Andes. Ainda assim, com mais de 7000 anos de cultivo, é uma das culturas mais antigas desta região e figura nos manuais de História como alimento essencial dos Incas.
A quinoa traz consigo um lustro de sobrevivência. Sobrevivência dos povos que alimentou durante largos anos, sobrevivência à marginalização que lhe foi imposta pelas invasões espanholas da região com o incremento do cultivo de cevada e trigo e, principalmente, sobrevivência própria. A sua planta é capaz de resistir a temperaturas dos – 4ºC aos 38ºC e a taxas de humidade entre 40% a 88% em altitudes elevadas onde o oxigénio escasseia e os solos hipersalinos não perspectivam a sobrevivência de nenhuma cultura.
Todas estas particularidades tinham de fazer da quinoa um cereal especial. E, de facto, fizeram. De tal modo que a quinoa pode ostentar com orgulho o facto de ser o único alimento de origem vegetal que possui a totalidade dos aminoácidos essenciais na sua composição. Podemos inclusive apelidá-la de “cereal animal” pois foi de forma selectiva captar aos alimentos de origem animal o que têm de melhor ao nível da distribuição de aminoácidos essenciais e quantidades substanciais de ferro, zinco, cobre e selénio, não aproveitando por outro lado os níveis de colesterol (inexistente na quinoa) nem o perfil lipídico pouco interessante, sendo maioritariamente rica em ácidos gordos, mono e polinsaturados. O melhor de dois mundos, portanto.
Continuando esta história feliz da quinoa na alimentação humana, há ainda que acrescentar os seus elevados teores de fibra, vitamina E, ácido fólico e restantes vitaminas do grupo B e a inexistência de glúten. Também da soja a quinoa tem um “travozinho” com a presença das suas mais bem conhecidas isoflavonas (daidzina e genisteína).
Em suma, a quinoa ainda constitui um bem de luxo mas, se no que diz respeito ao preço esta tendência poderá mudar nos próximos tempos, a pomposidade da sua composição nutricional permanecerá intacta.
Pedro Carvalho, nutricionista (pedrocarvalho@fcna.up.pt)
in Lifestyle Público
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