quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quinta-feira da Espiga


Este dia (a Ascensão) ocorre cerca de quarenta dias depois da Páscoa e é sempre a uma quinta-feira.


Dizia-se nas aldeias do sopé da Serra do Montejunto que “na quinta-feira de espiga há uma hora em que os pássaros não vão aos ninhos(...)”. Em Atouguia “o leite não se vende, todo ele é dado”. Noutras localidades “não se faz pão em quinta-feira de espiga” e noutras tantas coze-se nesse dia pão “para guardar o ano inteiro”.


Tradicionalmente, de manhã cedo, as pessoas vão para o campo apanhar a espiga e outras flores campestres. Com elas, formam um ramo com: espigas de trigo, folhagem de oliveira, malmequeres e papoilas. O ramo pode também incluir centeio, cevada, aveia, margaridas, pampilhos, etc.

O ramalhete da espiga não tem uma composição fixa, variando muito de região para região e até de terra para outra terra. No entanto, há mais alguns elementos que surgem quase sempre e que encerram uma simbologia especial.

Em terras de Alenquer, era tradicional colher-se um ramo de espigas de trigo (sempre em número ímpar), um pequeno tronco de oliveira, papoilas, margaridas e varas de videira. Este ramo era depois colocado atrás da porta de casa, para que nela houvesse pão, azeite, dinheiro e alegria durante todo o ano.

Em vários locais do Ribatejo colhem-se habitualmente três espigas de trigo (e/ou cevada e/ou centeio), três malmequeres amarelos (brancos) e três papoilas, mais um raminho de oliveira em flor, um esgalho de videira com o cacho em formação e um pé de alecrim ou de rosmaninho florido).

As espigas querem dizer fartura de pão; os malmequeres, riqueza; as papoilas, amor e vida; a oliveira, azeite e paz; a videira, vinho e alegria; o alecrim ou o rosmaninho, saúde e força. Guardado em casa, o rosmaninho da espiga não deve ser perturbado na sua quietude, sendo substituido apenas no ano seguinte por outro igual mas mais viçoso.

O ramo é guardado ao longo de um ano, até ao Dia de Espiga do ano seguinte, pendurado algures dentro de casa.

Acredita-se que este costume, que surge mais no centro e sul de Portugal, nasceu de um antigo ritual cristão, que era uma bênção aos primeiros frutos.

No entanto, por ter tanta ligação com a Natureza, pensa-se que vem bem mais de trás no tempo, talvez de antigas tradições pagãs associadas às festas da deusa Flora que aconteciam por esta altura e às quais se mantém ligada à tradição dos Maios e das Maias.

A tradição mantem-se em nossa casa e, como costume, fomos apanhar o Ramo da Espiga.
Não pode faltar as papoilas, espigas, ramo de oliveira e malmequeres (e todas as outras flores colhidas pelo caminho).
Depois é seco e guardado até ao ano seguinte.
Na casa antiga a porta de entrada era em madeira, por isso, era seco e pendurado no prego atrás da porta, onde também estava uma velha ferradura (para dar sorte!). Como a casa actualmente é nova e a porta é em metal, é guardado na dispensa... Coisas do progresso...
Uma tradição muito viva e religiosamente cumprida.
Para o ano há mais!

4 comentários:

mjoão disse...

Lembro-me de neste dia ir com a minha mãe passear para o campo, sendo tradição colher a espiga, a qual simboliza o pão e a abundância; um raminho de oliveira, que simboliza a paz; uma papoila que representa o amor; e um malmequer, ao qual está associado o ouro/dinheiro, formando todas estas plantas silvestres um raminho.

Um beijinho e um óptimo fim-de-semana :)

Maria Lua disse...

Sim, coisas bonitas que temos e devemos preservar!
Beijinhos e bom final de semana para ti também.
:-)

CrisB disse...

Como é bom vir aqui!
Falaste na minha terra, na minha vila presépio tão querida, conheces pessoalmente?
Este ano a minha mãe foi colher a espiga e trouxe-me para casa. Disse-me: filha, tens que ser mais crente e deu-me o ramo da espiga. Está pendurado por trás da porta da rua (também dantes tinha porta de madeira e com um prego onde se pendurava). Junto ao ramo tem um pedaço de pão e uma moeda dentro (tradição que vem desde os tempos da minha avó).
Um beijinho para ti
Cris

Maria Lua disse...

Olá Cris,

por acaso e com muita pena, só conheço a tua vila presépio de passagem, ao longe... Mas qualquer dia irei visitá-la!
Pois, a tua mãe tem razão, mesmo que não seja por crença, é muito bom mantermo-nos fiéis às nossa tradições para recordamos outros tempos, outras pessoas que já não estão presentes, para nos sentirmos bem e satisfeitas com tão pequeninos rituais, mas que fazem parte da nossa vida.
E quanto ao pedaço de pão e moeda, que a tua avó "tradicionalizou", junto com o ramo parece muito bonito.
Obrigado pela visita e beijinhos.
:-)