Um final feliz para as crias de andorinhão-preto e para a antiga Igreja de São Paulo - Elvas
Demolição de antiga igreja de Elvas foi suspensa por ordem do Ministério da Cultura
A demolição da igreja de São Paulo, em Elvas, "está suspensa" disse ao PÚBLICO a directora Regional da Cultura do Alentejo, Aurora Carapinha. A decisão foi tomada depois de técnicos deste organismo se deslocarem ao local e confirmarem que "não era possível" dar sequência à pretensão do Ministério da Defesa, que já tinha iniciado a preparação do terreno para colocar os andaimes necessários à demolição do imóvel seiscentista.
Aurora Carapinha explicou que o processo de demolição da antiga igreja chegou ao seu serviço como se fosse um facto consumado, e apenas para a solicitar o acompanhamento da operação. Contudo, acrescentou, esta "nunca poderia ocorrer" sem que previamente fosse feita a "análise do processo de demolição" que exigia um parecer daquele organismo.
"Neste momento não vemos razões para a demolição", realçou a directora regional, lembrando que existem técnicas de escoramento que invalidam o argumento expendido pelo Ministério da Defesa, que tem a tutela do edifício, ao alegar o risco de derrocada da fachada da igreja. Aurora Carapinha salientou também "o valor intrínseco" do património em causa, valor esse que "interessa preservar". A igreja de São Paulo, que se encontra em ruínas há mais de um século, situa-se na zona de protecção das muralhas de Elvas.
O Ministério do Ambiente já tinha ordenado, há cerca de duas semanas, a suspensão da retirada dos ninhos de uma das maiores colónias de andorinhão-preto do país, que está instalada nas ruínas da igreja de São Paulo. A colónia tem perto de 700 aves e a decisão do Ministério do Ambiente surgiu na sequência de uma providência cautelar interposta pela associação ambientalista Quercus. A denúncia da Quercus levou o Bloco de Esquerda e o Partido Ecologista "Os Verdes" a pedir esclarecimentos ao Governo sobre a demolição do imóvel.
A Câmara de Elvas também tomou posição sobre o assunto, referindo que a igreja pertence ao Ministério da Defesa e que "qualquer intervenção naquele prédio militar é da competência do respectivo proprietário" e "não carece sequer de autorização ou licenciamento municipais".
Mesmo assim, o executivo municipal, na sua última reunião, realizada passada quarta-feira, manifestou o entendimento de que é "necessário preservar a fachada e as ruínas da Igreja de São Paulo, como peça fundamental da arquitectura daquela zona do centro histórico da cidade". De acordo com a autarquia, isso será possível se se recorrer a "técnicas de estabilização e manutenção da construção actual, para garantir a integridade daquele património e a segurança dos residentes e transeuntes nas artérias envolventes das ruínas referidas, colocada em causa pelo estado actual da construção".
A igreja de São Paulo, localizada na Avenida 14 de Janeiro, em Elvas, corresponde a uma obra da arquitectura do século XVII, que "se encontra em ruínas desde finais do século XIX", refere a Câmara de Elvas. O edifício integra o conjunto do antigo Quartel de São Paulo, onde esteve instalado o Batalhão de Caçadores 8 e onde fizeram a recruta, nas décadas 60 e 70 do século passado, milhares de militares que estiveram envolvidos na guerra colonial. A igreja que o Ministério da Defesa pretende demolir foi ainda lugar de culto dos Paulistas da Serra de Ossa, a única ordem masculina com origem em Portugal.
Aurora Carapinha adiantou que o edifício religioso não está classificado mas é um imóvel em vias de classificação, conforme consta no Plano Director Municipal de Elvas. "O edifício até poderá ser escorado e assumir a forma de ruína. O Convento do Carmo também é uma ruína e está lá" observou a directora regional.
Carlos Dias (19.07.2010)
In Ecosfera
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