Estudo revela que adolescentes fumam para se integrarem
Jovens com 13 anos reconhecem implicações do tabagismo a longo prazo na saúde
De acordo com um trabalho de investigação realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), os adolescentes fumam com o intuito de melhorar o seu estatuto social junto dos colegas e apontam a pressão do grupo como uma das principais causas para começarem a fumar. Os jovens relacionam o acto de fumar com um desejo de emancipação, sendo que alguns adolescentes referem também a vontade de experimentar.
Estes são alguns dos resultados de um estudo da autoria de Sílvia Fraga, investigadora da FMUP, que servem de mote a um evento organizado pela Faculdade de Medicina, dirigido a Escolas, no Dia Mundial Sem Tabaco, assinalado na próxima terça-feira. A iniciativa tem como tema «Consequências do Tabagismo na Adolescência» e decorre entre as 10h e as 13h, na Aula Magna da FMUP.
De acordo com Teresa Duarte, responsável pelo Gabinete de Relações Públicas da FMUP, “com esta iniciativa, pretende-se alertar os mais novos para as consequências do acto de fumar a curto e médio prazos”, ajudando os jovens a resistirem à pressão do grupo, identificada pelos investigadores da FMUP como um dos factores mais importantes para a iniciação do tabagismo na adolescência.
Num estudo prévio, em que 2036 adolescentes de 13 anos foram avaliados quantitativamente no âmbito do Projecto EPITeen, da FMUP, mostrou-se que 19,9 por cento dos adolescentes já tinha experimentado fumar, 1,8 por cento faziam-no ocasionalmente e 1,3 por cento fumava pelo menos um cigarro por dia.
Estes resultados foram complementados com um estudo qualitativo, em que 30 desses adolescentes (15 rapazes e 15 raparigas) foram entrevistados com o objectivo de avaliar as representações sociais subjacentes ao comportamento de fumar.
Ineficácia das campanhas de sensibilização
Os investigadores da FMUP perceberam que os adolescentes têm consciência de algumas das implicações do tabagismo na saúde: “Eles sabem que fumar faz mal e são capazes de associar o tabagismo a um maior risco de sofrer de cancro do pulmão ou doenças respiratórias e de morrer. No entanto, as informações de que dispõem não os impedem de fumar”, esclarece Sílvia Fraga.
De acordo com a investigadora, “os adolescentes parecem não se reconhecer como alvo das campanhas de sensibilização que se centram nas consequências a longo prazo”. Essa poderá ser uma das razões da sua ineficácia junto dos jovens. Aliás, os adolescentes mostram-se cansados das campanhas e propõem, como estratégia preventiva, medidas repressoras nas escolas.
Sílvia Fraga conclui que “é importante desenvolver novas campanhas que realcem as consequências do consumo de tabaco na adolescência” para estimular uma mudança de comportamentos, e propõe que os programas escolares de promoção da saúde se foquem em melhorar a capacidade dos adolescentes controlarem a pressão do grupo.
Por isso mesmo é que a FMUP pretende dar o exemplo, promovendo uma acção anti-tabágica dirigida aos adolescentes. Do programa, consta a apresentação dos resultados do estudo de Sílvia Fraga, seguindo-se uma intervenção de José Agostinho Marques (pneumologista e director da FMUP) sobre as consequências do tabagismo na adolescência a curto e médio prazos. O evento encerra após a alocução de Miguel Ricou, psicólogo e investigador da FMUP, sobre a relação entre os adolescentes, os amigos e o tabaco.
in Ciência Hoje
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