A recente vaga de fogos florestais, desta feita no centro do país, confirma que continuam a ser usadas de forma descontrolada queimadas e ações análogas, a par dos crimes de fogo posto. Estando estas ocorrências, não raras vezes, associadas à falta de ordenamento florestal e de gestão ativa nas áreas de pinhal-bravo e eucaliptal, este é um cenário favorável à proliferação de incêndios de forma exponencial, sobretudo em condições meteorológicas favoráveis, como presentemente verificado.
Foram detectadas folhas de eucalipto queimadas a mais de 10 Km dos incêndios que não chegaram a originar novos focos. Contudo, convém referir que é frequente as folhas ou cascas incandescentes situadas a escassas centenas de metros estarem na origem de novos fogos, dificultando o combate e colocando em causa a segurança de pessoas e bens nos espaços rurais.
Só no incêndio da Mata em Ourém arderam mais de 6000 hectares de eucalipto e pinheiro-bravo em menos de 24 horas, numa área que já tinha ardido há 7 anos, nos grandes incêndios de 2005. Estamos claramente perante um exemplo em que à manifesta falta de gestão na maioria da área acrescem as plantações intensivas de eucalipto sem qualquer planeamento que pudesse promover a defesa da floresta contra os incêndios.
Os programas de investimento florestal para as plantações e gestão de matos encontram-se bloqueados por serem demasiado burocráticos e terem níveis de apoio baixos para os proprietários florestais, os quais optam frequentemente pela inação.
A Quercus considera necessária uma estratégia de longo prazo com melhores políticas agro-florestais, que promova o investimento público na floresta autóctone, com recurso a diversas espécies mais resistentes ao fogo, como os carvalhos.
A Quercus, para além de advogar a manutenção da interdição de plantação de eucaliptos nas áreas ardidas por um período de 10 anos, situação que nem sempre é cumprida pelas autoridades, considera ainda que deve ser proibida a conversão do uso do solo de pinhal ou floresta de regeneração natural para eucaliptal pelo mesmo período, devido ao recente aumento da área de eucalipto, pois, caso contrário, coloca-se seriamente em risco a diversificação da floresta portuguesa.
Caso o Governo aprove o novo regime, já anunciado, de arborização e rearborização para viabilizar a expansão das monoculturas de eucalipto sem condicionantes, aumentarão, mais ainda, os problemas decorrentes da falta de ordenamento, com a propagação de grandes incêndios que colocam em causa não apenas a sustentabilidade da floresta, mas a segurança de pessoas e bens.
Lisboa, 4 de Setembro de 2012
A Direção Nacional da
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Quercus defende a manutenção da interdição, sem exceções, de plantações de eucaliptos nas áreas ardidas por um período de 10 anos
in Quercus
Sem comentários:
Enviar um comentário