O grão-de-bico padece hoje em dia da mesma maleita social que as suas congéneres leguminosas, ou seja, não está na moda! Sendo tão rico em nutrientes, em tempos, foi chamado de "a pipoca dos pobres".
Historicamente, as leguminosas sempre foram associadas às classes mais baixas, que não possuíam recursos para outras fontes protéicas como a carne e o peixe. No caso do grão-de-bico, esta associação ganha ainda maior relevância uma vez que, na Roma Antiga, quando se pretendia caracterizar alguém como pobre, utilizava-se a expressão “consumidor de grão frito”. Assim, tal como hoje apelidamos carinhosamente o tremoço de “marisco dos pobres”, também o grão-de-bico foi em tempos a “pipoca dos pobres”, dado que era vendido por comerciantes de rua como aperitivo durante os espectáculos populares de teatro.
Apesar desta clara falta de marketing e da diminuição do seu consumo ao longo dos tempos, há que reconhecer que, na Europa, só a Turquia e a Espanha possuem uma produção superior à nossa e que temos como típicos alguns pratos como o Bacalhau com Grão, Creme de Grão com Espinafres e Rancho. E, se os dois primeiros conseguem reunir algum consenso relativamente ao seu equilíbrio nutricional, o rancho sofre do mesmo preconceito das feijoadas ao ser muitas vezes considerado um prato “muito pesado”. Neste contexto, quando se metem as leguminosas ao barulho, onde a generalidade das pessoas vê “pratos pesados”, os nutricionistas vêem refeições altamente saciantes, sendo que, no rancho tal como nas feijoadas, a única forma de os desequilibrar nutricionalmente passa pela adicção excessiva e desnecessária de enchidos e sal. A estratégia a adoptar é justamente a inversa: passa por utilizar o grão-de-bico como uma arma contra a hipertensão, beneficiando dos seus compostos outrora designados de anti-nutricionais e que hoje se sabe inibirem a enzima de conversão da angiotensina, mimetizando desta forma muitos fármacos de cariz anti-hipertensor.
Assim, não é surpresa nenhuma que o grão-de-bico seja uma excelente (e barata!) fonte protéica de baixo valor calórico, com grande teor de fibra, folato, ferro, zinco e vitamina E, tal como não é surpresa que tenha um papel positivo nos nossos níveis de colesterol e na prevenção da diabetes tipo II, cancro e obesidade. Surpresa é que não seja reconhecido por tudo isto e ande constantemente “fora de moda”.
Pedro Carvalho, nutricionista (pedrocarvalho@fcna.up.pt)
in Lifestyle Público
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