domingo, 12 de agosto de 2007

As imagens da semana

Li no jornal Metro (10 a 16 Agosto 2007) o seguinte texto: "As casas de Óbidos são caiadas de branco mas têm rodapés com duas cores: azul e amarelo. A escolha tem a ver com as cores do brasão da vila e com crenças dos obidenses, que acreditavam que o azul atraía os bons espíritos e o amarelo afastava os maus. Diz-se ainda que o azul era para casas institucionais e o amarelo para o povo."
Fiquei impressionada com estas palavras sobre o rodapé azul e não consegui conter alguma alegria.
Apesar de não pertencer a Óbidos e sim à zona saloia, desde sempre lembro da casa dos meus avós maternos caiada de branco e com um rodapé azul, assim como tantas outras que a rodeavam... azul e não amarelo.
Com o "progresso", a maior parte das casas foram demolidas e modificadas, tornando-se gigantes de cores fortes ou inovadoras. Quando reconstruímos a casa dos meus avós, muito foi destruído... a madeira desapareceu, as pedras, as janelas com postigos, o palheiro, o sotão... Apesar do tamanho/dimensão da casa se manter (pequenina!).
Estava programada a cor branca com rodapé amarelo, mas reagi e recusei, seria azul (a minha cor preferida!), porque era a cor que a minha avó utilizava para pintar o respectivo (comprava em pó e diluía em líquido). Mais tarde, fiz alguma pesquisa pelos arredores e observei as poucas casas antigas, ainda com vida, em que o rodapé permanece em tons azuis...
A minha aldeia, pelas casas brancas com rodapé azul, tentava atrair os bons espíritos e a minha casa permanece fiel à tradição que os antigos deixaram.
Seja bem-vindo quem vier por bem!

O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.

É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...

Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...

(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol...

Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)
Alberto Caeiro

2 comentários:

Luísa Silva disse...

Também no Alentejo cada terra tem o barrão (rodapé) de sua cor. Na minha, a cor é o ocre ou cinzento. Mas o teu azul é lindo e as três últimas fotografias são um espanto.

Maria Lua disse...

Belém,

muito obrigado pela visita e por tão gentis palavras!
Tentei pesquisar um pouco mais sobre o rodapé (borrão) das casas, porque percebi que é um traço comum em muitas zonas de Portugal, e porque realmente tinha muito interesse em saber, mas não conseguir encontrar mais nada... Vou continuar a investigar e talvez consiga mais informação sobre tão precioso e magnífico assunto. E talvez consigas saber qual o motivo do ocre ou cinzento na tua terra...
;)