Rua Dom Pedro V, n.º 1
Lisboa
Tel.: 213463057
Com três ingredientes apenas se faz doçaria conventual. Passe uma tarde a ovos, frutos secos (da amêndoa à noz) e açúcar e descubra porque estas receitas tradicionais perduraram no tempo há séculos. A Doce História abriu em Dezembro de 2011 e traz à capital doces, licores, biscoitos e compotas conventuais, receitas de monges e freiras. Dos Açores chegam-lhe as queijadas da Graciosa, do Alentejo vem o pão de rala, de Coimbra são oriundos os pastéis de Santa Clara e o Algarve é a terra dos Dom Rodrigos. Se estes são doces bastante conhecidos, o mesmo já não se pode dizer do famoso licor de Singeverga, que nos chega de e Santo Tirso. O que não nos chega é a força de vontade para resistir a tanta tentação…
Na época dos descobrimentos, a entrada do açúcar nos nossos mercados fez nascer a doçaria conventual. Cinco séculos volvidos, o nosso paladar contínua tentado pelo receituário dos conventos portugueses.
O número um
O melhor de todas as regiões viajou até à capital e está no número 1 da Rua Dom Pedro V, a meio caminho entre o centro do Bairro Alto e o Príncipe Real. A localização é de primeira, os doces idem idem.
Os doces que dão o nome à loja estão expostos numa pequena montra de vidro no centro do espaço.Nas prateleiras estão em destaque os licores, as compotas e biscoitos. Há pouco espaço para ornamentos ou elementos de função meramente decorativa nas estantes da Doce História, mas os doces enchem-lhe as vistas.
Por preços que variam entre o 1 e os 6 euros, pode provar um papo de anjo, um morgado, uma brisa do Tâmega, uma léria de Amarante, uma trouxa de ovos, uma encharcada, uma fatia de fidalgo ou uma de pão de rala. Os ingredientes são quase sempre os mesmos. Predominam as gemas de ovo, o açúcar, a gila, a alfarroba e a amêndoa. De um doce para outro muitas vezes mudam apenas alguns pormenores receituários e acontece até ser apenas o nome que muda de um concelho para outro. O que uns chamam de barrigas de freira, outros chamam de lérias. Regionalismos à parte, aqui são servidas as receitas centenárias que herdámos dos monges e freiras deste pequeno país.
As especialidades vão rodando consoante o dia. Pode calhar-lhe ir à procura de um beijinho de freira e ter de se ficar pela barriga. A diferença está toda no ponto… de açúcar.
Quem cozinha em ponto, acrescenta um conto
Por detrás de cada doce há uma história, todas elas “confecionadas” uma dose q.b. de lenda. Diz o povo que o Dom Rodrigo foi feito em homenagem a um honrado cavaleiro que servia o rei D. Afonso III. Conta-se que na luta contra os mouros, Dom Rodrigo de Mascarenhas tomou como prisioneiro um jovem que ia em segredo casar-se com a mulher amada, à revelia do pai dela. Fascinado pela história de amor proibido, o galanteador Dom Rodrigo libertou o jovem permitindo-lhe que se casasse na condição que depois regressasse para cumprir a sua pena. Quando o jovem regressa, admirado pela sua coragem e pela beleza da rapariga que o prisioneiro desposara, Dom Rodrido de Mascarenhas libertou-o com honras. No Convento das Carmelitas de Lagos, onde terá nascido Dom Rodrigo, nasceram também os Dom Rodrigos.
O pão de rala alentejano também tem que se lhe diga. Feito no Convento de Santa Helena do Calvário para homenagear a visita do rei D. Sebastião a Évora, a sua receita original era com pão, azeitonas e água, tudo o que no convento havia. O rei enternecido com a oferta mais tarde presenteou o convento com alguns valores. A generosidade do monarca permitiu às freiras incrementar a receita do pão de rala adicionando fios de ovos recheando com gila o pão de rala como hoje o conhecemos. Quando pedir uma fatia deste doce e ele lhe for servido com azeitonas no prato, já sabe a razão.
Doce História em estado licoroso
Em época de Quaresma, as freiras não podiam entregar-se ao prazer da gula e assim nascem os biscoitos secos. A estes a Doce História também dedica uma página ou outra. Experimente uns biscoitos algarvios de figo, de mel ou de alfarroba ou umas broas de mel de cana da Madeira. E fique ainda a saber o que são as raivas…
Os licores conventuais são outra das grandes atrações deste espaço. Leve uma garrafa de ginja de Alcobaça para casa ou prove in loco (1,5 euros cada copo) este popular licor. Mas o que tem mesmo de experimentar é o licor de Singeverga, o único feito 100% por monges beneditinos a partir da destilação direta de ervas aromáticas. Uma receita antiga com um procedimento que continua hoje como era há séculos. Com esta Doce História, é fácil viver feliz para sempre…
Andreia Melo
in Lifecooler
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