segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mel alentejano
Das flores e plantas que perfumam o montado e as serranias alentejanas nasce um dos produtos mais puros da região. Comido à colherada, barrado no pão ou utilizado na doçaria, tem cor de ouro e sabor a lua... de mel


Tal como as gentes alentejanas, que foram buscar a alma da sua gastronomia às ervas aromáticas e alimentares, também as abelhas souberem aproveitar o melhor da flora que nasce espontaneamente na região. A ela se devem as características principais do mel - cor, aroma e sabor - que determinam as cinco variedades deste “néctar” produzido no Alentejo: quatro monoflorais, ou seja, feitas a partir de um só tipo de flor dominante, e uma multifloral, com pólen de várias espécies.
Entre as primeiras, o mel de rosmaninho é o mais comum, distinguindo-se pela cor clara e pelo aroma e paladar fino e leve. No entanto, também se produz mel de laranjeira, com sabor delicado e o aroma característico da fragrância das laranjeiras; mel de eucalipto, de paladar pronunciado e forte; e mel de soagem, mais escuro e que tem grande tendência para cristalizar.
Já o monofloral é proveniente de zonas onde não predomina nenhuma espécie, embora deva apresentar obrigatoriamente mais de 5% de uma das seguintes plantas: esteva, sargaço, rosmaninho, soagem, eucalipto, cardo, tomilho, laranjeira e alecrim. A cor varia entre o âmbar claro e o âmbar escuro, enquanto o aroma e o paladar são ricos, perfumados e profundos.

Uma colherada de história
Apreciado milenariamente pelo seu sabor único e propriedades medicinais, o mel tem também uma longa tradição no Alentejo. É possível que a apicultura na região (tal como no resto do país) remonte à época dos romanos, para quem este produto era considerado um autêntico “néctar digno dos deuses”.
Da Idade Média chegaram relatos dos privilégios reais concedidos ao chamados “abelheiros”, nomeadamente em Serpa, onde foram criadas áreas próprias para esta actividade. Nessa época, os enxames eram geralmente colocados em troncos de árvores vazios, mas nas terras mediterrâneas havia um produto perfeito para instalar as “casas” das abelhas: o cortiço do sobreiro. E sobreiros foi coisa que nunca faltou no Alentejo...
Entretanto, os enxames “mudaram-se” para caixas de madeira com quadros móveis (que facilitam a retirada dos favos), mas a forma tradicional de produção pouco se alterou. Primeiro, o mel é separado da cera, depois são filtradas as impurezas e, finalmente, basta guardá-lo num pote de barro ou num frasco de vidro.

Doces que sabem a favos
A qualidade do mel alentejano é assegurada pela Denominação de Origem Protegida (DOP), chancela que delimita a sua área de produção e reconhece um saber-fazer ancestral. Assim, sempre que comprar um frasco com o respectivo selo azul e amarelo já sabe que não vai comer “gato por lebre”...
Além dos concursos internacionais, onde é habitual ganhar primeiras classificações, o néctar produzido nos distritos de Portalegre, Évora e Beja recebe também uma justa homenagem
na gastronomia e, sobreretudo, na gulosa doçaria tradicional alentejana.
O bolo de mel do Convento do Bom Jesus de Monforte, as alcomias e as pinhoadas, doces com pinhões e mel que se encontram na zona de Alcácer do Sal, ou os bombons de mel do Alentejo são apenas alguns deleitosos exemplos da sua utilização. Já está com água na boca?

De Alcácer a Mértola, passando pelo Alvito
Uma vez desperta a tentação, é altura de descobrir o melhor local para cometer o pecado da gula. São muitas as feiras semanais e as pastelarias alentejanas que dão a provar o mel da região e seus respectivos doces, mas há algumas iniciativas e eventos onde este produto é rei e senhor.
É o caso da Feira do Mel, do Queijo e do Pão, que decorre todos os anos em Mértola por alturas de Abril, ou da PIMEL - Feira do Mel, do Pinhão e da Doçaria Regional, promovida pela autarquia de Álcácer do Sal no mês de Junho.
Mais intimistas e didácticos são os Ateliês do Mel, realizados regularmente (sob marcação prévia) pela Rota do Fresco. Este programa promete um dia em cheio nos arredores do Alvito, com visita a uma colmeia e uma melaria (onde se faz o mel), participação na recolha dos favos, um piquenique com produtos tradicionais e, claro, as indispensáveis provas. Pode ter a certeza que vão cair como sopa no mel...

Nelson Jerónimo Rodrigues
In
Lifecooler

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