Superbactéria ainda não chegou a Portugal mas há casos semelhantes
Autoridades admitem que risco de importação é grande e estão alerta. Nos hospitais, 33% dos médicos não lavam as mãos
A Direcção-Geral da Saúde garante não haver nenhum caso de infecção pela superbactéria em Portugal. E ao Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) não chegou nenhuma amostra para confirmação em laboratório. Mas é cada vez mais claro que os novos organismos a circular na Europa poderão entrar no país, que já regista uma taxa elevada de infecções hospitalares por bactérias multirresistentes muito semelhantes ao novo agente.
"Não temos conhecimento de nenhum caso, mas é obviamente um risco. Até porque a existência de bactérias multirresistentes a antibióticos não é um problema novo em Portugal", refere Cristina Costa, coordenadora do Programa Nacional de Controlo da Infecção. A MRSA é a mais frequente nos hospitais, e tem mecanismos semelhantes à superbactéria identificada na Índia. Ambas conseguem produzir enzimas capazes de destruir os antibióticos, explica.
Apesar de já ter vitimado uma pessoa na Europa, não há medidas extraordinárias para evitar o seu surgimento em território nacional. O programa nacional para combater este problema já inclui medidas para aumentar a lavagem das mãos dos profissionais de saúde, e também dos visitantes de pessoas internadas. E são estas medidas que se vão manter.
No ano passado, a taxa de desinfecção atingiu os 67% dos médicos - começou com 46% -, o que significa que 33% continuam a não lavar as mãos. O objectivo do programa é chegar, este ano, aos 75% dos profissionais - aproximando os valores à meta da Organização Mundial da Saúde de chegar aos 90% em 2012. Quanto aos visitantes, não há dados sobre esta prática de higienização. A resistência de bactérias a antibióticos tem vindo a aumentar e, segundo o Sistema Europeu de Vigilância da Resistência aos Antibióticos (EARSS), Portugal tem tido nos últimos anos uma das piores performances - é um dos dois países com 50% de bactérias resistentes. O uso indiscriminado de antibióticos é uma das principais causas para que as bactérias desenvolvam resistências aos tratamentos.
Na semana passada, um artigo publicado na revista médica "Lancet" dava conta de um novo tipo de mutação que torna bactérias comuns em agentes responsáveis por infecções hospitalares como a E. coli. Há cerca de 6000 antibióticos disponíveis, mas estes organismos são resistentes a quase todos, mesmo aos que só são usados como último recurso.
Jaime Nina, epidemiologista do INSA, explica que o risco existe. Mas Portugal tem um sistema de vigilância operacional, que rastreia a origem dos casos mais graves de infecção hospital e encaminha-os para um laboratório específico do INSA, a Unidade Nacional de Referência de Resistência aos Antimicrobianos (URRA.) Ainda assim, salienta Jaime Nina, há algumas razões para preocupação. No caso da e. Coli - que provoca por exemplo infecções urinárias -, a mutação pode apenas tornar os tratamentos com antibióticos mais difíceis. Já o caso da Klebsiella pneumoniae, que segundo a "Lancet" também já foi transformada em superbactéria, é mais preocupante. "São mais raras e rápidas. A falha de um antibiótico pode ser fatal", diz. A possibilidade de esta superbactéria se transformar num problema de saúde pública é, para Jaime Nina, um problema ainda distante, apesar de a história mostrar que sempre que uma resistência se alastra em meio hospitalar aparece na década seguinte na comunidade. Foi o caso do estafilococo dourado, que provocou surtos de pneumonia nos anos 60 e 80.
In Jornal I
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