quarta-feira, 23 de maio de 2012

Crise e "catadores" ameaçam reciclagem de resíduos eléctricos

A crise económica e a colecta ilegal de electrodomésticos velhos, como frigoríficos e televisores, pode comprometer o cumprimento das novas metas de reciclagem de resíduos eléctricos e electrónicos, alerta a maior entidade portuguesa do sector.
Em cinco anos de actividade regular, a Amb3E – empresa que gere os resíduos de cerca de 70% dos produtos eléctricos e electrónicos colocados no mercado – recolheu cerca de 180 mil toneladas de aparelhos que de outra forma iriam para o lixo normal. A quantidade tem vindo a aumentar. No ano passado, foram cerca de 43 mil toneladas – 22% a mais do que em 2010.


Mas uma boa parte do que os cidadãos deitam fora ou colocam nos contentores próprios – o “ponto electrão” – acaba por ser desviada para circuitos paralelos, onde não há garantia de tratamento adequado.
O presidente da Amb3E, Hans Egenter, diz que há sistematicamente uma diferença entre o número de equipamentos novos vendidos pelas lojas e os usados que são deitados fora. Embora muitas vezes um novo aparelho não susbstitua o velho, a Amb3E sugere, sem especificar um número ideal concreto, que o hiato deveria ser menor.
“Há um mercado paralelo que funciona e funciona cada vez melhor”, diz Egenter. O director-geral da Amb3E, Jorge Vicente, fala de uma estrutura em pirâmide, na qual sucateiros são abastecidos por inúmeros apanhadores ilegais de resíduos. Alguns, segundo diz, chegam a circular com carrinhas pintadas com a mesma cor de veículos municipais.
Esta actividade, diz Jorge Vicente, traz riscos acrescidos ao ambiente, na medida em que muitas vezes os “catadores” retiram apenas o que interessa dos electromésticos, como os compressores dos frigoríficos, parte dos tubos dos televisores antigos ou simplesmente o metal dos aparelhos. “Às vezes, os frigoríficos chegam-nos completamente descarnados”, afirma.

Aparelhos vendidos estão a diminuir
A imagem de “catadores” a apanharem electrodomésticos ou outros resíduos nos ecopontos ou junto aos contentores não é nova. Mas a Amb3E teme que a situação piore num futuro próximo. A quantidade de aparelhos vendidos está a diminuir, tendo caído 21%, em peso, entre 2010 e 2011, segundo dados da Associação Nacional para o Registo de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos. “Infelizmente, a tendência é continuar”, antecipa Hans Egenter.
Menos equipamentos no mercado significam menos resíduos e, por isso, mais concorrência entre o circuito legal e o ilegal de recolha. Isto poderá comprometer o cumprimento das metas de uma nova directiva da União Europeia, que prevê a recolha, até 2016, de 45% dos equipamentos colocados no mercado, subindo para 65% em 2020.
“Vai ser mais complicado de cumprir”, diz Hans Egenter, completando que a Amb3E tem falado com as autoridades ambientais sobre o assunto.
A meta actual – recolha de 4kg de resíduos elécticos e electrónicos por habitante – já está a ser cumprida. A maior parte do esforço vem de grandes operadores de recolha e tratamento de resíduos. Em 2011, os “pontos electrões” responderam por apenas 4%, as escolas contribuíram com 3% e os quartéis de bombeiros, com 5%.
Cerca de 40% são electrodomésticos sem grande perigosidade, sobretudo máquinas de lavar, 17% são frigoríficos e aparelhos de ar condicionado, 29% são pequenos aparelhos eléctricos, 13% são televisores antigos e um por cento são lâmpadas.

Ricardo Garcia
in Ecosfera

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