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Terra de guerra e paz, com importantes baluartes defensivos mas também uma das mais belas igrejas do Algarve, Castro Marim oferece um local de visita obrigatório em cada uma das suas colinas. Para lá chegarmos é preciso força de vontade mas este carrossel a pé vale bem o esforço, quanto mais não seja pelas vistas únicas que se descobrem no alto do centro histórico.
Desengane-se quem pensa que Castro Marim tem pouco para ver. A vila até pode ser uma das sedes de concelho mais pequenas e despovoadas do Algarve mas a sua importância patrimonial bem que justifica uma visita atenta ao centro histórico. Afinal, passaram por estas paragens inúmeras civilizações antigas, como fenícios, cartagineses, vândalos e, claro, mouros, que aqui estabeleceram a porta de entrada para o Al Gharb árabe.
De olhos postos em Espanha, no Guadiana e no mar, a sua importância estratégica e militar deu-lhe o estatuto de primeira sede da Ordem de Cristo (1319), mas o terramoto de 1755 arruinou todas as habitações situados no interior das muralhas e a vila estendeu-se extramuros, apertada entre as colinas do castelo, do Forte de São Sebastião e da ermida de Santo António.
Cada um destes três monumentos servirá de ponto intermédio ao nosso passeio portanto prepare-se para suar as estopinhas porque até lá é sempre a subir, quase sempre por caminhos e atalhos que só se fazem a pé. Pode ir preparando o fôlego…
Sal para temperar o passeio
É nos arredores da Praça 1º de Maio que o coração da vila bate mais forte, por isso nada melhor que começarmos a nossa caminhada neste largo rodeado por algumas das mais belas e bem preservadas moradias da vila. Ao fundo já se avista a Igreja de Matriz (entre as mais elegantes do Algarve) mas para lá chegarmos é preciso subir uma larga escadaria (a primeira de muitas) que liga ao adro do templo.
A meio da subida vale a pena fazer uma paragem na sede da Associação de Produtores de Sal Marinho do Sotavento Algarvio para comprar um frasco de sal e de flor de sal da região. Dizem-nos por lá que é o melhor sal do mundo, distinguindo-se do mais comum por ser muito aromático e ter uma concentração maior de minerais. Alguns dos mais afamados chefes de cozinha nacionais já não conseguem passar sem ele e pouco se importam de vir até este canto do país só para comprar tão apreciado produto.
Uns lances de escada acima fica, então, a principal igreja do concelho, dedicada a Nossa Senhora dos Mártires, onde se destaca uma proeminente cúpula branca de múltiplas janelas. É deste local que obtemos uma perspetiva inicial do casario branco da vila, com as suas platibandas (espécie de muro no alto das fachadas) e chaminés rendilhadas. À esquerda, ergue-se o imponente Forte de São Sebastião, enquanto à direita (ali mesmo ao lado) está o castelo, para onde seguiremos sem mais demoras.
Observar o castelo e admirar a paisagem
Uma estreita e gasta calçada de pedra leva-nos em menos de dois minutos até à porta do principal ex-libris de Castro Marim, mandado construir no século XIII, embora no seu interior exista outro castelo ainda mais antigo - o chamado Castelo Velho - possivelmente edificado pelos muçulmanos três séculos antes. Carregado de simbolismo histórico, este local serviu de berço à Ordem de Cristo e durante alguns anos também foi morada d`O Infante D. Henrique, enquanto nos dias de hoje é o palco principal dos Dias Medievais que todos os anos em finais de Agosto trazem à vila muitas dezenas de milhares de visitantes.
Logo à entrada somos surpreendidos por uma guilhotina que em tempos foi utilizada para açoitar os infratores das leis do reino e a poucos metros fica a Igreja da Misericórdia com o seu belo portal renascentista. Daqui até ao Castelo Velho pouco mais se encontra que as ruínas de vários edifícios destruídos pelo terramoto de 1755, mas uma vez lá chegados vale a pena conhecer o pequeno núcleo museológico existente no seu interior, recheado de achados arqueológicos.
Mais imperdível ainda é a subida ao alto das muralhas que oferecem uma panorâmica de 360º sobre a paisagem envolvente. A vila, as salinas e a Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António estão em primeiro plano, enquanto logo depois avista-se o Guadiana e as povoações vizinhas de Vila Real de Santo António e Ayamonte. Já no horizonte, os nossos olhos prendem-se ainda no oceano (a sul) e nas serranias algarvias (a norte), que delimitam as fronteiras do concelho castro-marinense.
Que São Sebastião nos ajude a subir
É verdade que o terreno elevado e acidentado sempre ajudou à defesa do castelo e da povoação, mas agora obriga-nos a mais uma difícil caminhada, primeiro sempre a descer até ao edifício da câmara municipal, de onde segue uma enorme rampa que nos liga depois ao Forte de São Sebastião.
Após quase 15 minutos com “a língua de fora” batemos literalmente com o nariz na porta, já que esta estrutura militar do século XVII encontra-se fechada aos visitantes. Vale-nos, no entanto, mais uma vez a espetacular vista que também daqui se alcança, com ângulos privilegiados para o sapal.
Ali quase ao lado está também o ponto final da nossa visita – o Revelim de Santo António – mas serão precisos apenas dois passos para lá chegarmos? Longe disso! Venha daí então mais uma descida, agora por uma estrada de terra batida, e finalmente uma outra escadaria que sobre até ao topo desta nova colina.
À mesa no Revelim
A colina de Santo António ficou de cara lavada em 2009, altura em que se reabilitaram os edifícios ali existentes, nomeadamente a capela, o moinho e a antiga estrutura militar do Revelim, que passou a acolher um Centro de Interpretação do Território.
A grande atração do espaço – uma maquete interativa com o concelho de Castro Marim – encontra-se atualmente avariada, mas para compensação lançou-se a iniciativa À Mesa no Revelim, que dá a provar as iguarias da região por um preço bastante acessível.
Da esplanada da cafeteria/restaurante admiramos, então, pela última vez as singulares paisagens envolventes e apercebemo-nos que depois do centro histórico é obrigatório conhecer também as inúmeras atrações naturais de Castro Marim, como as praias, o Guadiana, a reserva natural ou as salinas. E quando assim for ficaremos a descobrir a razão de ser deste concelho onde, todos os dias, a terra, o rio, o mar e o Homem se encontram.
Nelson Jerónimo Rodrigues (2012-04-24)
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